Há 37 anos, o sargento Sílvio Hollembach perdeu a vida para salvar uma criança que havia caído em um poço de ariranhas (lontras). Seu ato de coragem foi exaltado pelo cronista paulistano Lourenço Diaféria, que assinava uma das colunas de maior audiência da Folha de São Paulo. O fato ocorreu a 27 de agosto de 1977, no Zoo de Brasília, onde o militar se encontrava em visita com sua família. Na emoção de seu texto, Diaféria sugeriu que o referido militar, como autêntico herói, merecia uma estátua para substituir aquela do Duque de Caxias, erigida numa praça ali do bairro.
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Sem dúvida que os logradouros públicos de todo o País estão lotados de monumentos de falsos heróis. Mas no caso de Caxias, é uma das poucas exceções, porque foi herói brasileiro de fato e de direito. De qualquer forma, Lourenço Diaféria pagou o preço de sua opinião, isto porque vivíamos os anos de chumbo e a Ditadura não o perdoou, trancafiando-o numa masmorra militar. Ele ainda deu sorte, porque escapou com vida. No que se refere aos heróis de verdade que foram esquecidos e ficaram sem o devido monumento de bronze, há inúmeros. Poderia citar dezenas ou mais, mas me restrinjo a um deles: o coronel goiano Mauro Borges.
Testemunhei de perto, como repórter, sua coragem e patriotismo. O histórico episódio ocorreu, por coincidência, no mês de agosto de 1961, após a surpreendente renúncia de Jânio Quadros, ocasião em que o trio formado pelos ministros do Exército, Marinha e Aeronáutica tentou impedir a posse do vice João Goulart, que se encontrava em viagem ao exterior. Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, levantou a PM gaúcha. E o governador goiano Mauro Borges fez o mesmo, com o apoio unicamente de seu povo, incluindo estudantes, moças e rapazes que empunharam armas contra o inimigo entrincheirado bem próximo, em Brasília, QG dos golpistas. E foi graças a essa resistência heróica que Jango conseguiu voltar e ser empossado na presidência da República.
Como recompensa de seu ato heróico, Mauro Borges foi cassado no golpe militar de 64. Ele faleceu no ano passado, esquecido na História do Brasil, e sem estátua. Mas continua vivo na memória dos goianos. Na verdade, ele merece ser lembrado não com um simples monumento de bronze, mas sim de prata, erigido ali bem no centro da Praça Cívica.