Antecipar festas, especialmente aquelas que rendem mais lucro para seus patrocinadores, virou um exercício de esperteza. A primeira que sofreu esse impacto foi o Dia das Mães, talvez porque permite um bom desembolso em termos de presentes: uma geladeira com freezer e outros eletrodomésticos são regalos que mostram seu amor pela progenitora. Ao contrário do que acontece se você levar um esmalte, um batom ou um avental para ela. Sem falar no lucro-benefício, que mostra o quanto você está antenado em nossa sociedade neoliberal.
Nas outras datas comemorativas, que rolam na mídia e nas vitrines, homenagear pais, avôs, avós, tios, cunhados, noras, os regalos são mais simples e podem se resumir a camisetas, cuecas, gravatas, suspensórios, pijamas, echarpes, sapatos de salto alto, roupas pra malhar na academia, meias e assemelhados.
Já no Natal chegamos ao extremo. Nas outras datas, a antecipação do consumo é até modesta, mas as vitrines opulentas e as TVs a cabo fecharam o ciclo. Exemplo: desde o começo de novembro, elas exibem filmes com temas natalinos – talvez para antecipar a felicidade dos telespectadores.
As ofertas são irresistíveis. Os roteiros – provavelmente escritos pela Inteligência Artificial – anunciam perdões, esperanças, reencontros, amores, todos iluminados com estrelas cintilantes, luzes que brilham sob o céu cheio de bonecos de gelo com nariz de cenoura, ou coisa assim.
Teme-se que os filmes comemorando a data maior da cristandade comecem a ser exibidos – ou digeridos – desde o primeiro semestre do ano. Como já acontece com os panetones.