Médicos de hospitais da rede pública de saúde do Distrito Federal receberam, na terça-feira (15), a orientação que mais temiam: precisarão escolher, entre os pacientes, aqueles que permanecerão nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e os que serão removidos para abrir vagas para quem estiver em estado mais grave.
O Brasília Capital teve acesso ao processo SEI, da Secretaria de Saúde (SES-DF), que determina: “Os pacientes com boa função renal serão transferidos para leitos de Terapia Intensiva sem suporte dialítico”.
“Esta é a decisão mais difícil para um profissional. Sabemos que, ao fazer isto, podemos estar determinando o fim da esperança de sobrevivência de uma pessoa. E o pior: não é a certeza de que vamos salvar a vida da outra que vai ocupar o seu lugar”, disse um médico, que pediu anonimato.
Em mensagens de um grupo de WhatsApp do hospital regional de uma das cidades-satélites de Brasília, profissionais da saúde choravam ao relatar que pacientes estavam sendo transferidos para outras unidades sem diálise.
Atendimento adequado
Em nota ao Brasília Capital, a Assessoria de Comunicação Social da Secretaria de Saúde esclarece que “não se trata de ‘escolher’ entre pacientes menos graves. Essa afirmação é improcedente e pode gerar conclusões falsas”.
Segundo a Ascom da SES-DF, “pacientes com perfil de Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), que estiverem em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), devem e precisam ser transferidos para que os pacientes com necessidade de hemodiálise sejam transferidos das UCIs para as UTIs com essa capacidade de atendimento”.
E completa a Secretaria de Saúde: “Os médicos não estarão escolhendo entre pacientes mais graves e menos graves. Trata-se, exclusivamente, de atendimento adequado de acordo com as necessidades específicas de cada paciente”.
Cai a transmissibilidade
O painel da Central de Regulação de Leitos da Secretaria de Saúde apontava pelo menos dois dados positivos no início da manhã de terça-feira (16): a taxa de transmissibilidade do novo coronavírus, que chegou a 1,38% na semana anterior, estava em 1,01%. E seis novos leitos de UTI foram abertas no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) durante a madrugada. A unidade é gerida pelo Instituto de Gestão (Iges-DF).
O índice de transmissibilidade significa que para cada 100 pessoas com a doença, outras 101 são contaminadas. “Sem dúvida, foi um avanço, com certeza obtido pelas medidas do GDF de redução da circulação de pessoas. Mas é preciso diminuir ainda mais essa taxa antes de retomar as atividades normais”, alertou um médico infectologista. Segundo ele, os efeitos dessa queda só serão percebidos dentro de 15 dias.
O Painel de Regulação da SES-DF apontava, ainda, que a taxa de ocupação de UTI na rede particular era de 98,66% e de 92,7% nos hospitais públicos. Há 243 pessoas aguardando vaga de terapia intensiva. Com as novas seis vagas no HRSM, o DF dispõe, agora, de 752 leitos de UTI, sendo 375 na rede particular e 377 na pública.
O GDF marcou para segunda-feira (22) a licitação para contratação das empresas que construirão os três novos hospitais de campanha. Juntos, eles oferecerão mais 300 leitos de UTI.Não há previsão de quando estarão prontos.