Sebastião Nery
RIO – Chico Heráclio foi o mais famoso coronel do Nordeste. Em Limoeiro, Pernambuco, quem mandava era ele. Era o senhor da terra, do fogo e do ar. Ou obedecia ou morria. Fazia eleição como um pastor. Punha o rebanho em frente à casa e ia tangendo, um a um, para o curral cívico. Na mão, o envelope cheinho de chapas. Que ninguém via, ninguém abria, ninguém sabia. Intocado e sagrado como uma virgem medieval. Depois, o rebanho voltava. Um a um. Para comer. Mesa grande e fartura fartíssima. Era o preço do voto. E a festa da vitória. Um dia, um eleitor foi mais afoito que os outros:
– Coronel, já cumpri meu dever, já fiz o que o senhor mandou. Levei as chapas, pus tudo lá dentro, direitinho. Só queria perguntar uma coisa ao senhor: em quem foi que eu votei?
– Você está louco, meu filho? Nunca mais me pergunte uma asneira dessa. O voto é secreto.
Agamenon
Chico Heráclio jogou tudo na campanha de Agamenon Magalhães, do PSD, contra João Cleofas, da UDN, na disputa do governo do Estado, em 1950. Deu mais de 70 por cento dos votos da região a Agamenon. Agamenon tomou posse, ele foi lá. Agamenon estava eufórico:
– Chico, use e abuse do meu governo.
– Governador, muito obrigado. A Secretaria da Fazenda e a Secretaria de Segurança o senhor não dá a ninguém. As outras não valem nada, não quero nada. A não ser pedir pelos meus amigos quando for preciso e para colocar água em Limoeiro.
Pouco depois, voltou ao Palácio para pedir a Agamenon a aposentadoria de um amigo, juiz com poucos anos de função.
– Mas Chico, isso é muito difícil.
– Se fosse fácil eu não vinha lhe pedir. Governo existe é para fazer as coisas difíceis. As fáceis a gente mesmo faz.
Mas entre Heráclio e Lula há uma diferença. Heráclio não dizia palavrão. Lula é um boca-suja. Mulher e menino não podem chegar perto.
O juiz
Dia de festa em Limoeiro. O time da cidade ia jogar com o escrete de Garanhuns, disputando o primeiro lugar no Campeonato Intermunicipal. Coronel Chico Heráclio chegou todo de branco, sentou-se na cadeira de vime, a partida começou. Primeiro tempo, segundo tempo, nada. Zero a zero. Não saia gol. Cinco minutos para acabar o jogo, o juiz, que tinha ido do Recife, marcou pênalti contra Limoeiro. A torcida da cidade endoidou, invadiu o campo. O juiz correu para junto do coronel Heráclio com medo de ser linchado. O coronel levantou a bengala, todo mundo parou:
– O que é que houve, seu juiz?
– Um pênalti que eu marquei, coronel.
– O que é esse negócio de pênalti?
– É quando o jogador comete uma falta dentro de sua área. Aí, a bola fica ali naquela marca, em frente à trave e um jogador adversário chuta. Só ele e o goleiro.
– E faz o gol, seu juiz?
– Geralmente faz, coronel, é difícil goleiro pegar pênalti.
– Muito bem, seu juiz. Sua explicação é muito boa, E eu não vou tirar sua autoridade. Já que houve o tal do pênalti, faça como a regra do futebol manda. Só que o senhor, em vez de botar a bola em frente da trave de Limoeiro, faça o favor de botar do outro lado e mandar um jogador daqui da cidade chutar.
– Mas, coronel, isto é contra a lei.
– Pois já ficou a favor. Aqui em Limoeiro a lei sou eu.
Limoeiro ganhou.
Lula
Como Lula mesmo falou, o Brasil está criando uma jararaca. Um Coronel Jararaca. Ele não fala, morde. Ele não diz, xinga. Ele não disputa, rouba o jogo. Não quer aliados, correligionários. Quer vassalos, escravos. Não quer um partido. Quer uma gangue para roubar, roubar, roubar. A filosofia dele é a dos fascínoras. Para ele e para eles, “vale tudo”.
Dilma
Até a Dilma, que parecia de caráter diferente, aderiu logo ao bando. Já na campanha eleitoral dizia que “para ganhar vale tudo”. Agora, conta a “Folha de S. Paulo”: “O ministro da Educação, Aloísio Mercadante (logo ele, da Educação!), falou em alternativas para tirar o senador Delcídio da prisão, dizendo que “em política tudo pode”.
É a lição, a sórdida lição do PT, de Lula e do governo Dilma.
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