Diva Araújo e José Silva Jr
Os problemas de atendimento nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) parecem não ter fim. O descaso é tanto que atinge até a família do primeiro mandatário do País. Ângela Maria Firmo Ferreira, tia da primeira-dama Michelle Bolsonaro, passa pela mesma aflição de milhares de pessoas em todo o Distrito Federal.
Na segunda-feira (6), Ângela madrugou na porta do CRAS, em Ceilândia, e quando chegou a sua vez as fichas haviam acabado. “Eu precisei insistir para me atenderem. Ainda assim, não resolvi meu problema, que é continuar com o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e com o auxílio-funeral, pois até hoje não me recuperei da perda do meu filho”, contou à reportagem do Brasília Capital.
Secretária grava vídeo irônico
Os CRAS’s são vinculados à Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), comandada pela primeira-dama do DF, Mayara Noronha Rocha, que, aparentemente, não está muito preocupada com o caos instalado nos Centros de Referência. Há poucos dias, Mayara publicou um vídeo em seu perfil numa rede social em que aparece a bordo do seu carro de luxo.
“Êita, que hoje não tá fácil não, viu? Tô abalada. Tá difícil, e hoje eu resolvi colocar foi música de fogo”, diz a esposa do governador Ibaneis Rocha na gravação. E antes de entoar um hino de louvor evangélico, ela ainda emenda: “Se fosse fácil, já teriam resolvido. Hoje eu vim à base do fogo aqui”.
A repercussão foi péssima. Fontes palacianas chegaram a dizer que a situação de Mayara tornara-se insustentável. Deputados da base aliada do governo pediram a cabeça da secretária. Enquanto isso, quem estava na ponta, como a tia de Michelle Bolsonaro, sentia na pele o frio das madrugadas mal dormidas nas filas dos CRA’s.
Que o diga Marize Hilarino, 46 anos, moradora do Sol Nascente. Ela tentava fazer a renovação do seu cadastro no CRAS de Ceilândia para continuar recebendo benefícios. Mesmo acordando cedo e, literalmente, dormindo na fila durante três noites seguidas, só conseguiu atualizar seus dados cadastrais na quarta-feira (8). “É muita dificuldade. Mas graças a Deus consegui”, aliviou-se.
Servidores apresentam soluções
O mesmo aparente descaso ocorre com a pauta de reivindicações dos servidores da Sedes. Mobilizada, a categoria paralisou os trabalhos para uma assembleia no dia 8 e tem nova paralisação marcada para o dia 23 de junho, na Praça do Buriti.
Na última assembleia, a adesão foi de 80% dos servidores. A categoria reivindica ampliação da capacidade de atendimento nos CRAS e demais unidades da assistência social. E fixou alguns pontos apresentados ao GDF que ajudariam a reduzir a alta demanda de pessoas que esperam por atendimento nas filas quilométricas.
Segundo o diretor de comunicação do Sindicato dos Servidores da Assistência Social e Cultural (Sindsasc), Clayton Avelar, 188 auxiliares estão desviados de função, podendo ser realocados nas unidades e reforçar o atendimento.
Além do retorno dos servidores às unidades, outro ponto que pode contribuir para a redução da fila de espera seria a mudança da carga horária dos servidores que solicitaram aumento de 36 para 40 horas semanais, resolução que não acarreta nenhum custo a mais do que já previsto no orçamento de 2022, e resulta em 7.360 horas a mais para atendimentos.
Confira os pontos elencados pelo Sindsasc:
1 – Zerar o cadastro de reservas com a nomeação dos aprovados no último concurso público (270 candidatos);
2 – Ampliação da jornada de 36 para 40 horas aos servidores que solicitaram;
3 – Resolver administrativamente a situação dos servidores auxiliares em desvio de função para que retornem às atividades;
4 – Melhores condições de trabalho das unidades de atendimento.
Diante do caos e da insustentável situação nos CRAS do DF, o governo do Distrito Federal (GDF) autorizou nesta terça-feira (14) a ampliação do atendimento nos Centros de Referência de Assistência Social. Segundo anúncio da secretária de Desenvolvimento Social, Mayara Noronha Rocha, em redes sociais da pasta, será publicado decreto autorizando a ampliação na carga horária dos servidores efetivos da (Sedes), para solicitarem mudança de 30 para 40 horas semanais, uma medida já reivindicada pelo Sindsasc.