O papel do Brasil é o de defender nos organismos internacionais os direitos humanos, a cooperação entre os países e a resolução pacífica dos conflitos
Zélio Maia da Rocha (*)
Dois anos de dolorosa crise sanitária já levaram mais de 5,4 milhões de pessoas em todo o mundo, dentre elas 674 mil brasileiros. No ano passado, mais de 82 milhões foram forçados a se deslocar em razão de perseguições, conflitos, violência e violação de direitos humanos em todo o mundo. Ao mesmo tempo, a insegurança alimentar aguda aumentou 40% e atingiu mais de 800 milhões do ano.
Essas estatísticas testemunham que a Terra passa pela pior crise humanitária desde 1945, último ano da Segunda Guerra Mundial. Assim, perturba saber que o já deteriorado quadro mundial será agravado pelos últimos acontecimentos relativos à invasão russa na Ucrânia. Ainda que seja prematuro falar em um conflito de escala global, são inegáveis as repercussões econômicas e sociais negativas do conflito.
Perturba ainda mais saber que, diante desse quadro, a atuação internacional do Brasil é tímida e destoante de sua tradição diplomática. Isto porque, desde Barão do Rio Branco, os brasileiros têm um histórico de destaque nos organismos internacionais na promoção do equilíbrio do planeta.
Podemos lembrar, por exemplo, da atuação do diplomata e político Oswaldo Aranha, que presidiu a primeira sessão da Assembleia Geral da ONU e foi determinante para a construção do Estado do Israel. Ou de Sérgio Vieira de Mello, diplomata da ONU que atuou em quinze missões de paz, dentre elas no Timor Leste, onde conduziu o processo de pacificação e independência daquele país.
O soft power, compreendido como exercício do poder brando, realizado por meio do diálogo e do convencimento, é a característica da política externa brasileira ao longo das décadas, e conseguiu afirmar nosso país positivamente perante as nações.
Ainda que não se possa ignorar o peso do poderio econômico e militar, o papel reservado a nós e que demonstramos ser competentes, é o de defender altivamente nos organismos internacionais os direitos humanos, a cooperação entre os países e da resolução pacífica dos conflitos.
Essa postura, longe de ser uma pretensão utópica, precisa ser recuperada – a bem da defesa dos interesses nacionais e, ao mesmo tempo, dos esforços globais pela construção da paz e da justiça.
(*) Subprocurador-geral do DF, advogado (licenciado), professor de Direito Constitucional, diretor-geral do Detran