Eu o vi de perto em Kamakura, quando lá estive na década de 1960, como repórter da revista Manchete. Por isso, posso afirmar: os olhos daquele bonzo de 1,90 eram azuis mesmo, da cor do mar Mediterrâneo. Entretanto, não obstante minha insistência, não consegui ouvi-lo, simplesmente porque bonzos não falam, muito menos dão entrevistas a jornalistas.
Para compensar, fiquei conhecendo a sua estória através de um velho jardineiro de Kamakura, localidade que se destaca porque é considerada Cidade Sagrada, no Japão, por conta de seus inúmeros santuários, com destaque para o templo que chama a atenção pelo enorme Buda construído no ano de 1.252 e com 13,5m de altura.
Mesmo gaguejando um inglês de pele-vermelha, o jardineiro fazia-se entender perfeitamente, e ficou com a língua mais solta quando coloquei, discretamente, em suas mãos, três notas de 10 dólares – para ele verdadeira fortuna – por um diálogo de 60 minutos.
– \”O senhor sabia que aquele bonzo foi astro em Hollywood?\”
Não, eu não sabia. E aí fui juntando os cacos. Pelo dito e ouvido, consegui montar o quebra-cabeça do perfil biográfico do bonzo de olhos azuis.
Era uma vez um rapaz sueco de descendência viking que resolveu tentar a sorte na América, na década de 1930. Depois dos primeiros trabalhos no pesado, o jovem foi descoberto por um agente cinematográfico, entusiasmado com sua beleza física, o que contribuiu para que fosse aprovado no primeiro teste em Hollywood. Embora assediado por jovens fãs, ele se apaixonou por uma moça nipônica, com quem casou.
Mais ou menos por essa época, aconteceu, em dezembro de 1941, o traiçoeiro ataque da aviação japonesa à base americana de Pearl Harbor, matando soldados e afundando navios de guerra. E o ódio dos ianques se voltou contra os japoneses residentes nos EUA, em alguns casos assassinando-os a pauladas, entre os quais a mulher do ator sueco. Eis que o galã sumiu de Hollywood, reaparecendo anos depois em Kamakura, a esta altura como bonzo.
Se a estória que ouvi do jardineiro era verdadeira ou não, não tenho a resposta. De qualquer maneira, acredito que foi importante transcrevê-la. Caso ele me tenha vendido uma mentira emocionante por 30 dólares, valeu o preço.
De minha parte, reafirmo este pedaço de verdade: aquele bonzo de Kamakura tinha mesmo enormes olhos azuis!