Antes do pão, a farinha, o fermento, a sova, o calor e o tempo. Antes do vinho, a uva, a colheita, a maceração e o tempo. Antes do “nós”, eu, você, o calor, o riso, a lágrima e o tempo. Você é um, eu outra. “Nós” somos uma outra coisa que eu gosto demais.
Ando pensando sobre o que é esse processo, essa alquimia que acontece nas melhores coisas da vida. Como o amor e o vinho, é preciso investir trabalho e tempo. É preciso estar disposto a suportar o inverno um do outro; respeitar o período de dormência e floração.
Mas, mais que tudo, é preciso estar preparado para aguentar a fermentação, o calor, a química. Ficar no meio do caminho é perder-se, é não-ser. Farinha que não vira pão se perde no ar; uva que não é comida tem ainda escolha: pode virar vinho. Quando se perde, vira vinagre. Azeda.
Há de se refinar o paladar para não jogar fora tudo que se pode intuir das experiências. As nuances, aromas, cores e sabores. Senão, é melhor viver de paixão em paixão. Nada contra, mas é que eu gosto de histórias longas, com vários capítulos.
Por aqui, temos mesa posta, pão e vinho.
(*) Escritora