O desmatamento vem se deslocando da Amazônia para o Cerrado. Enquanto, a região Norte apresentou queda de 68% em abril, o Cerrado vivencia a maior agressão dos últimos cinco anos: o desmatamento ultrapassou 69 mil hectares no mesmo mês. Um aumento de 36% em relação a abril do ano passado, segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado).
Os primeiros quatro meses de 2022 totalizaram a devastação de 257,3 mil ha, mais que o dobro da área da cidade do Rio de Janeiro. Essa realidade já deveria ter acendido a luz amarela – se não a vermelha – no governo federal e nos estados inseridos no bioma, incluindo o DF. Aqui, os principais responsáveis pela redução da vegetação nativa são o agronegócio e a expansão urbana.
A região denominada Matopiba (fronteiras do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) é a maior devastadora. A nova fronteira do agronegócio responde por 69% do desmatamento do Cerrado no período, com 177,8 mil hectares derrubados. A principal vilã do bioma é a produção de soja, informa a coordenadora científica do MapBiomas, Julia Shimbo. O desmatamento acontece majoritariamente em propriedades privadas e na maioria das vezes de forma ilegal, sem autorização ou em áreas proibidas de desmatamento.
Indicadores do DF preocupam
Pelas suas pequenas dimensões territoriais, o DF não apresenta indicadores tão elevados. Mas a alta do desmatamento local preocupa. Nos primeiros quatro meses deste ano, já são 241 hectares (em 2022 foram 192 hectares). Apenas em março, a área desmatada (134,6 ha) equivale a 70% de todo o ano passado.
Isso assusta, pois os meses da seca (julho a agosto), em que normalmente há maior desmatamento, estão por vir. Em 2022, 26,2 ha foram desmatados em julho e 23,5 há em outubro. Por aqui, o avanço do desmatamento se deve à expansão urbana e a transformação da área de vegetação original em pastagens.
Nem as áreas de proteção ambiental são respeitadas. Dois terços do cerrado devastado se encontravam na Área de Preservação Ambiental do Planalto Central, sob responsabilidade do ICMBio. Coincidência ou consequência, a superintendência local do órgão foi extinta por Jair Bolsonaro. Segundo Shimbo, o avanço sobre o Cerrado candango pode levar a crises hídricas.
Ameaça à geração de energia
Além da agressão à flora e à fauna – que coloca em risco de extinção várias espécies –, a queda na produção d’água é um dos maiores temores desse avanço sobre a vegetação original. O Cerrado abriga 131.991 nascentes, segundo dados do Museu do Cerrado, mas já perdeu água em 66% de suas regiões hidrográficas. A Chapada dos Veadeiros teve, nas últimas três décadas, sua superfície coberta por água reduzida em 200 há, o equivalente a 200 campos de futebol.
A redução da capacidade de produzir água pode afetar, inclusive, a geração de energia hidrelétrica. O ambientalista Nicolas Behr cita a Bacia do Paraná, responsável pela maior parte da geração de energia elétrica no País, inclusive Itaipu, que depende de vários rios que nascem no Cerrado. “Em 2021, registrou a menor vazão de sua história, trazendo o risco de um apagão no sistema elétrico brasileiro, contornado pelo uso das poluentes termoelétricas”, lembra ele.
Use o link para ler matéria completa