A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não exageram e tampouco mentem quando dizem que nunca na História do Brasil se investigou e se puniu tanto os corruptos. Eles têm razão. Mesmo que, em algum momento, seus correligionários e aliados – e eventualmente eles próprios – tenham se tornado ou venham a ser alvos dessas investigações.
Foi Lula quem criou, no final de seu primeiro mandato, em 2006, a Rede Nacional de Laboratórios contra Lavagem de Dinheiro do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (Rede-LAB). O órgão é dirigido pela Secretaria Nacional de Justiça, do Ministério da Justiça. Até janeiro de 2015, foram examinados 2.196 casos suspeitos em todo o País com a ajuda da tecnologia dos laboratórios. 2785 relatórios haviam sido produzidos e pelo menos R$ 22 bilhões foram ressarcidos aos cofres públicos.
A expectativa é de que esses números cresçam de forma exponencial. Isto porque o governo federal tem firmado convênios com todas as unidades da Federação para aparelhar as polícias civis estaduais com esses laboratórios. Até março deste ano, o Ministério da Justiça já havia instalado 43 unidades, e a meta é colocar em funcionamento pelo menos 60 deles em todo o território nacional até o final de 2016. Em algumas localidades, existe mais de um laboratório. É o caso do Distrito Federal, que tem cinco, e de São Paulo, que conta com quatro desses laboratórios.
ALVO
O que pouca gente sabe é que uma das principais responsáveis pelo sucesso desses laboratórios é uma empresa brasiliense que atua em parceria com a IBM, a Via Appia, sediada no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA). É seu diretor-presidente, o advogado e músico Geraldo Couto, quem ensina os dois segredos para o cidadão não ser pego em algum tipo de ato ilícito: ser extremamente correto em todas as ações e não praticar nenhuma irregularidade usando meios de comunicação como telefones e redes sociais e o sistema bancário. Melhor dizendo, andar na linha mesmo.
Segundo Geraldo Couto, a partir do momento em que a pessoa se torna alvo de uma investigação, o conjunto de sistemas batizado de informalmente de “Enxoval” passa a cruzar todos os dados que ela produziu em movimentações financeiras, troca de mensagens por meio de redes sociais (Twitter, e-mails, WhatsApp, Facebook, etc.) ou ligações telefônicas. Em poucas horas os laboratórios têm condições de mapear toda a rede de contatos do “alvo”, recuperar o conteúdo das mensagens (áudios e textos) e degravar (transcrever) as conversas.
Para se ter uma ideia, em um processo de investigação real, pode-se chegar a mais de 6.000 horas de áudio de interceptações telefônicas. Quantidade de horas que dificilmente um grupo de agentes ou analistas poderia aproveitar ao máximo. Isso porque faz-se necessário ouvir várias horas de gravações infrutíferas, aliado ao fato de que a atenção humana não pode ser mantida por um longo período de tempo.
Tanto de uma forma quanto outra, várias informações importantes seriam perdidas. Por isso, na maioria das investigações importantes são utilizados sistemas automatizados que transformam as ligações em textos com a indicação de quem está falando. Esse recurso provém dos softwares e equipamentos de última geração da Via Appia e da IBM, como appliances com no mínimo 4 tb (terabites) de disco e 196 gb (gigabites) de memória RAM, que crescem de acordo com a demanda do cliente.
PIXULECO
Segundo um investigador que não quis se identificar por motivos óbvios, “o ser humano tem necessidade de falar, e acaba criando um código, em geral idiota, que levanta suspeita e chama a atenção da polícia”. Ele exemplifica com um áudio em que dois criminosos combinam uma ação com um dialeto aparentemente incompreensível. Mas os computadores traduziram com facilidade. A quadrilha foi desmontada e seus integrantes presos. Nada escapa do software de buscas inteligentes Watson e i2 da IBM, e do programa de computação cognitiva TheXML, da Via Appia.
Os corruptos tentam infinitas maneiras de combinar seus esquemas de desviar e lavar dinheiro. Os nomes são os mais estapafúrdios. Foi assim que a PF chegou a João Vaccari Neto, o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores pego por receber suas propinas sob a alcunha de “pixuleco”.
O delegado-geral da Polícia Civil de Cuiabá, em Mato Grosso, Anderson Garcia conclui: “até há pouco tempo, fazíamos as investigações pegando simplesmente a autoria e a materialidade e dávamos o trabalho por encerrado. Hoje não. A metodologia está mudando e com esses laboratórios vamos nos preocupar em buscar esses ativos provenientes dos crimes praticados”.
E Geraldo Couto encerra: “o alvo é o dinheiro”.
SAIBA MAIS
A produção desta reportagem só foi possível a partir da concordância do diretor-presidente da Via Appia, Geraldo Couto, em conceder uma entrevista exclusiva ao Brasília Capital. Devido a uma cláusula de confidencialidade com o projeto, ele precisou de autorização da IBM, que disponibilizou os links abaixo como fontes que já abordaram o assunto. A cláusula de confidencialidade impede, inclusive, a citação dos nomes das operações em que os equipamentos da Rede-LAB foram utilizados nas investigações.
http://www.baguete.com.br/noticias/06/01/2015/laboratorio-foca-lavagem-de-dinheiro
(*) Colaboraram Gustavo Goes e Gabriel Pontes