Dennys Bernardo de Melo, 31 anos; Ygor Henrique dos Santos, 18; e João Pedro Jovovich, 18. Esses três homens são exemplo de uma atividade que não apenas chama a atenção, mas provoca, sempre, muita polêmica ― e tem crescido no Distrito Federal. São drag queens. Numa simples definição, pessoas do sexo masculino que vestem roupas extravagantes de mulher, imitando voz e trejeitos femininos afetados, geralmente em shows e espetáculos.
Ainda em comum, além das personagens, consideram o que fazem como arte e reclamam de preconceito. Também exergam na atividade uma quebra nos padrões teatrais. O modelo artístico Dennys Bernardo de Melo, 31 anos, transforma-se (monta-se) desde os 27. Ele vira Pikinéia Minaj às sextas-feiras e aos sábados, em shows na casa noturna Victoria Haus. Homossexual, Dennys acha que não sofre mais discriminação por ter apoio da família e de amigos.
Morte da mãe
“Graças a Deus, minha família e meus amigos sempre me apoiaram nas minhas decisões. Desde o começo da minha carreira eles adoram e me acompanham”, diz Dennys. Ele tem uma explicação para encarnar a personagem em suas apresentações: a morte da mãe. “Depois de um ano de tristeza, vi nas drags que a vida podia ser colorida novamente. Então, a Pikineia veio colorir minha vida”, justifica-se.
Amor e diversão
O estudante Ygor Henrique dos Santos é o centro das atenções nos espaços que frequenta. Com danças, jóias extravagantes e cabelo longo trançado, ele evidencia toda a personalidade forte que desenvolveu durante a adolescência. Aos 17 anos passou a se interessar por montar um estilo próprio.
“Quando eu faço um olho, uma boca, uma personagem eu me inspiro no que estou vivendo. Eu tiro toda a inspiração de dentro de mim. Definiria minha performance como ‘momento’”, analisa. Ygor ainda conta que foi atraído pela força e alegria que o mundo drag queen proporciona. “Rola muito preconceito, algumas perdem famílias, mas nunca abaixam a cabeça e continuam se fortalecendo por amor e diversão”, acrescenta.
“Menininha, viadinho”
Outro exemplo de artista performático é João Pedro Jovovich. Desde pequeno ele sempre gostou de usar maquiagem e roupas femininas. Aos 13, a mãe de João comprou o DVD da cantora Beyoncé e ele começou inspirar-se na artista. Quando tinha 16, se descobriu como drag queen. Ele conta que não passou por preconceitos, mas enfrentou comentários na escola que frequentava.
“Nunca passei por preconceitos, Só mesmo aquela coisa de escola em que as pessoas comentavam ‘menininha’, ‘viadinho’, mas nada sério’”, explica João Pedro. Em casa, ele passou por uma fase complicada, mas foi aceito pela família. “Na época em que contei para minha família que eu era drag foi no mesmo período que também revelei ser gay. Então, foi um tiro atrás do outro. Pensaram que eu ia virar travesti ou que eu queria ser mulher. Depois, tudo se acertou”, revela.
Liberdade de expressão
Na visão de João, as drag queens são pessoas que querem mostrar a liberdade de expressão. “Minha ideologia é mais para provar para o ser humano, independentemente de sexo, cor, raça e religião, que a gente é capaz de fazer o que quer. É pela vontade de tentar mudar o mundo. Hoje em dia as pessoas ainda são muito preconceituosas”, lamentou. João, após montar-se, chama-se Olympeã Stuarts.
João tem a ajuda de muitas drag queens, mas conta que nem sempre é aceito por elas. “A cena drag de Brasília é muito boa, tem muitas drags maravilhosas que me ajudaram muito, mas já percebi que as drags daqui são muito ligadas em beleza, em estar perfeita e se estiver alguma coisinha fora do lugar, elas te julgam por ter algum defeito. Elas têm que entender que a gente já sofre preconceito demais na sociedade para ainda sofrer nesse meio”, critica.
Espectador
O estudante Rodolfo Lacerda, 22, aprecia a arte das drag queens nas casas noturnas que frequenta. “Eu acredito que as drags estão alcançando um nível além. Elas estão tirando essa arte do campo da banalização e transformando em fenômenos mundiais como, por exemplo, a cantora Pabllo Vittar”, opina.
Rodolfo observa, ainda, que Brasília tem dado espaço para expressão dessa arte. No entanto, na visão dele, a cidade ainda tem muito o que evoluir. “Em comparação aos estados mais afastados da capital, eu acredito que Brasília tem dado exemplo, assim como São Paulo e o Rio de Janeiro”, diz.
Espaço na TV
Na TV, as drags ganham espaço e fazem perfomances em horários nobres. Elas são cantoras, dançarinas, atrizes e até apresentadoras. Um exemplo é o programa Amor e Sexo, da Rede Globo, que abre espaço para essas artistas expressarem-se abertamente. Outro programa de grande repercussão é o reality show estadunidense RuPaul’s Drag Race. Idealizado e apresentado pela drag queen RuPaul, o concurso entre drag queens tem como lema “ser diva com muito glamour” para suceder ao título de “America’s Next Drag Superstar”.
Em 2016, no Distrito Federal, a drag queen La Rubia promoveu o concurso La Rubia Drag Race. Inspirado no programa estadunidense, o concurso reuniu jovens de vários estados brasileiros que estavam prontos para disputar como mais “fabulosa, talentosa, deslumbrante e infame drag queen de Brasília.”
História
Esse costume se iniciou no século 16 nos teatros. Mulheres eram proibidas de se apresentarem nos palcos. Assim, homens se vestiam como mulheres para representar a figura feminina. Hoje, a arte tornou-se profissão e, independente de orientação sexual, se montam para fins de entretenimento.
Da redação, com Agência de Notícias UniCeub
Leia a íntegra do texto de Mariane Rodrigues, da Agência UniCeub