Numa cerimônia que durou menos de 20 minutos, os três principais nomes da nova equipe econômica foram anunciados ontem sem qualquer surpresa. Joaquim Levy, no Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, no Planejamento, e Alexandre Tombini, reconduzido ao Banco Central, fizeram pronunciamentos breves e, rapidamente, desconstruíram o discurso de campanha da presidente Dilma Rousseff, que, talvez por isso, tenha optado por não participar do anúncio oficial. O roteiro foi exatamente o esperado pelo mercado financeiro. Portanto, quem pode se surpreender são as famílias brasileiras. A promessa é de um arrocho de mais de R$ 50 bilhões, com um profundo corte de gastos, no qual nem programas sociais serão poupados, e aumento de juros e de impostos.
A posse dos novos integrantes do governo está condicionada à aprovação das mudanças na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o que só deve ocorrer na terça-feira que vem. No entanto, o novo time começa hoje a despachar no terceiro andar do Palácio do Planalto, e o Brasil passa a ter duas equipes econômicas: a que vai, efetivamente, mandar a partir de agora e outra, que só vai assinar os atos até o fim do ano, um fato nunca visto na história do país. Os futuros protagonistas defenderam uma postura de maior rigor, transparência fiscal e controle da inflação e, com o claro objetivo de resgatar a confiança de investidores e de empresários, colocaram fora a política econômica do primeiro mandato de Dilma.
Com uma postura altamente técnica, sem cumprimentar os colegas de mesa como rege o protocolo político, Levy iniciou seu discurso afirmando que, “mais do que uma honra, é um privilégio” suceder Guido Mantega, o mais longevo ministro da Fazenda no período democrático. Contudo, deixou claro que não pretende rezar pela mesma cartilha do antecessor. “O objetivo imediato do Ministério da Fazenda é estabelecer uma meta de superavit primário para os três próximos anos compatível com a estabilização e o declínio da dívida bruta do governo em relação ao Produto Interno Bruto (PIB)”, disse.
Levy afirmou que o governo precisa economizar, pelo menos, 2% do PIB para pagar os juros da dívida. Mas admitiu que isso não será possível ainda em 2015. “Não devemos chegar aos 2% no ano que vem. Portanto, vamos trabalhar com a meta de 1,2% do PIB em 2015. Mas ela não será menor do que 2% em 2016 e 2017”, assinalou. Ele deixou claro ainda que será preciso interromper a transferência de recuros do Tesouro para os bancos oficiais, outro pilar da atual política. “O Ministério da Fazenda reafirma o compromisso com a transparência de suas ações”, prometeu.
Levy observou ainda que a taxa de poupança é baixa e sugeriu que é chegada a hora de todos os brasileiros economizarem mais, dinamitando a matriz econômica de Mantega, que dirigiu o foco ao consumo e ao expansionismo fiscal. “Nossa prioridade tem que ser o aumento da taxa de poupança. Para isso, o governo federal dará o exemplo, aumentando o superavit primário e contribuindo para que os outros entes da federação, as empresas e as famílias sigam o mesmo caminho, fortalecendo nossa capacidade de investir e crescer.”