O mercado financeiro deu uma trégua ao nervosismo ontem e recuperou parte das perdas registradas na véspera, ao vislumbrar, nos nomes cotados para substituir Guido Mantega no Ministério da Fazenda sinais de que a presidente reeleita Dilma Rousseff poderá promover mudanças na política econômica. O presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, o ex-secretário executivo da Fazenda Nelson Barbosa e o ex-presidente do Banco do Brasil Rossano Maranhão são cogitados para assumir o comando da economia em 2015. Todos mais amigáveis ao capital e avessos ao intervencionismo do governo, como o mercado gosta.
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Com essa expectativa, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) se recuperou do tombo de 2,77% da segunda-feira, quando recuou aos 50.503 pontos, o menor patamar desde 15 de abril. Ontem, o pregão fechou em alta de 3,62%, a 52.330 pontos, seguindo a tendência das bolsas do exterior, que também operaram com ganhos. Já o dólar terminou o dia em baixa de 2,14%, cotado a R$ 2,472. Na véspera, a divisa havia atingido R$ 2,522, o maior valor desde 2005.
O alívio momentâneo dos investidores permitiu a recuperação doa papéis do chamado kit eleição, ou seja, de estatais e de bancos, setores mais vulneráveis à interferência do governo na economia, que oscilaram fortemente durante a campanha política. As ações preferenciais da Petrobras subiram 5,18% e, as ordinárias, 4,24%. Os títulos da petroleira giraram R$ 1,3 bilhão, quase 20% do total negociado na Bovespa. As ações da Eletrobras tiveram alta de 5,59% (ordinárias) e de 7,26% (preferenciais).
Para Alex Agostini, analista da Austin Ratings, o movimento do mercado deu duas sinalizações importantes. “Os preços ficaram muito baixos, e a ordem foi comprar para realizar lucros a curto prazo. Mas, sobretudo, os investidores estão dando ao governo a chance de mostrar que a política econômica terá mudanças”, avaliou.
Agostini observou que os nomes cogitados, principalmente os de Trabuco e de Meirelles, agradam ao mercado, em que a avaliação é que eles teriam, no exercício do cargo, maior autonomia em relação a Dilma. “São executivos rígidos, mais voltados à cartilha ortodoxa, de maior cuidado com a inflação e de controle fiscal”, ponderou. Ele advertiu, contudo, que a volatilidade vai continuar “até que os sinais de mudança sejam claros e oficiais”.
Ajuda externa
A opinião do economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, é semelhante. “O mercado está na expectativa do anúncio de nomes fortes para a condução da política econômica. Mas também tivemos uma ajuda do mercado externo”, ressaltou. Conforme Velho, indicadores das encomendas de bens duráveis nos Estados Unidos revelaram queda de 1,3% em setembro, quando se esperava alta de 1,7%. “Isso mostra que, mesmo que o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) retire os estímulos à economia, não vai, por enquanto, elevar juros”, assinalou.
André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, destacou que ontem foi um dia de alta nas princiais bolsas mundiais. No Brasil, o mercado apreciou a promessa da presidente de ampliar o diálogo com vários setores. “Isso não significa que aceitou Dilma, mas que quer acelerar costuras para a equipe econômica”, afirmou. Os investidores também apostam na manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 11% ao ano. A definição será dada hoje pelo Banco Central.