O primeiro debate entre buritizáveis, promovido segunda-feira (9) pelo portal Metrópoles, foi um encontro capenga. Não por culpa da organização, conduzida com profissionalismo pela jornalista Lilian Tahan. Mas devido à ausência de representantes de segmentos importantes da política brasiliense, principalmente do PT e do PDT.
Desde o início dos anos 1990, quando da primeira eleição de Joaquim Roriz pelo voto direto, os principais adversários da direita se abrigaram nessas duas legendas. Um ilustre desconhecido chamado Saraiva e Saraiva surgiu do nada e, com o apoio da militância petista, polarizou com Roriz.
Pelo PDT, o nome à época era do ex-presidente da secção do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), Maurício Corrêa, que chegou a ser ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em 1994, o PT foi buscar o reitor da Universidade de Brasília (UnB), o hoje senador Cristovam Buarque (PPS), para derrotar o candidato de Roriz, então senador Valmir Campelo, agora ex-ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).
Roriz retornou em 98, superando Cristovam Buarque no segundo turno. Em 2002, mesmo derrotado, o PT foi para o segundo turno com Geraldo Magela contra Roriz. Perdeu por diferença de pouco mais de um ponto percentual. Na eleição seguinte, em 2006, a dupla José Roberto Arruda/Paulo Octávio não deu chances a ninguém, vencendo o rorizismo e o petismo ainda no primeiro turno.
Mas em 2010 o PT voltou ao protagonismo. Atraiu o médico Agnelo Queiroz, que se elegera seguidamente deputado distrital e federal pelo PCdoB e tornara-se homem de confiança do ex-presidente Lula, de quem foi ministro.
Como governador, Agnelo encerrou o mandato em baixa e sequer disputou o segundo turno em 2014. Mas isto não significa o fim do petismo na capital da República.Rodrigo Rollemberg (PSB), que sempre esteve nos palanques do PT, elegeu-se com o apoio de dois expoentes pedetistas – os senadores Cristovam Buarque e José Antônio Reguffe (sem partido). Agora, em busca da reeleição, ainda sonha em ter o PDT em seu palanque.
Mas a única chance de realizá-lo seria por um acordo nacional em que o PSB apoiasse o presidenciável Ciro Gomes. Desapontado com Rollemberg, os pedetistas brasilienses se apressaram em lançar candidato próprio ao Buriti – o ex-distrital Peniel Pacheco, conforme antecipado pelo Brasília Capital.
Assim, arma o palanque para Ciro e atende ao desejo do presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle, de disputar uma vaga no Senado. Os outros dois distritais da legenda, Cláudio Abrantes e Reginaldo Veras, também apoiam a estratégia. Acreditam que, assim, terão mais facilidade em renovar seus mandatos.
Já o PT, mesmo com os desgastes sofridos durante os escândalos do Mensalão e do Petrolão, do fiasco de Agnelo e das investigações que pesam sobre a gestão 2010-2014, não é carta fora do baralho. Terá um forte candidato ao Senado (o distrital Wasny de Roure) e pode montar uma dupla com origens que sempre deram bons frutos ao PT – a academia (UnB) e o movimento sindical, com o professor Júlio Miragaya e o bancário Afonso Magalhães. Além da defesa do legado de Lula, que comove muita gente.
Tudo isso sem descartar, inclusive, uma aliança PT-PDT, caso Ciro Gomes e Fernando Haddad (ex-prefeito de São Paulo) se entendam para uma dobradinha nacional pelo Palácio do Planalto.
Aí, sim, a mesa capenga do primeiro debate se tornará um cenário mais real do que é a política brasiliense, com representantes da direita – general Paulo Chagas (PRP); da centro-direita – Jofran Frejat (PR), Izalci Lucas (PSDB) e Eliana Pedrosa (Pros); do centro – Alexandre Guerra (Novo); da centro-esquerda – Rollemberg (PSB), Peniel Pacheco (PDT) e o candidato do PT; e da esquerda – Fátima Sousa (PSol).
Quando isto acontecer, finalmente não estará faltando mais ninguém naquela mesa…