Em julho de 2012, Ariano Suassuna foi dar uma de suas aulas-espetáculo na UnB. Na ocasião, eu cursava o quarto semestre da faculdade e precisava de um verdadeiro espetáculo para conseguir passar na matéria de rádio. Prometi que entrevistaria Suassuna assim que ele saísse ou chegasse ao Anfiteatro 9 do Minhocão. E fui tentar a sorte. Nunca coube tanta gente em uma sala da UnB, até as pombas esfomeadas pararam para ouvir o escritor. E eu lá, procurando lugar, tentando gravar e ainda tendo que falar com ele na saída. Isso tudo descobrindo que eu não sabia nada de rádio, sequer confiava no gravador, muito menos sabia o que iria perguntar ao entrevistado.
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Das duas vezes que tive a oportunidade de vê-lo, esta, na UnB, foi quando ele estava mais à vontade. Era como se estivesse na sala de sua casa, ou em uma das suas salas de aula. Criticou a música e principalmente o que os jovens recebem de cultura. “Eu tenho a obrigação de mostrar ao povo uma alternativa a essa ‘arte de quarta categoria’ que andam espelhando por aí. Corrompendo o gosto do nosso povo, do nosso grande povo. Procurando nivelar tudo pelo médio. Isso é uma coisa triste. Não pode. Um país como o Brasil, um povo como o brasileiro tem direito a outra coisa”, afirmou.
Esta frase que citei foi a única que anotei durante toda a sua fala. Com a tremedeira que eu estava por ter que entrevistá-lo na saída, considero uma grande vitória. Depois de quase duas horas falando e debatendo com os alunos, Suassuna pôs fim à aula. E assim, chegara a minha hora de abordá-lo. Como previsto, não fui o único a ter essa ideia. Dezenas de professores e alunos o cercaram para conversar, tirar foto, autografar livro etc. Ninguém para entrevistá-lo. Só eu. E sem representar veículo algum.
Uma aluna um pouco mais saidinha segurou a mão de Suassuna e o virou para onde sua amiga já estava preparada para fotografá-los com um celular. A sorte é que era o lado que eu também estava. Aproveitei a oportunidade, me identifiquei como estudante de Comunicação e perguntei-lhe se ele gostaria de dar um recado aos meus colegas de curso. “Vocês têm que aprender na faculdade a mostrar o Brasil real na mídia. O papel de vocês na sociedade é importantíssimo”, disse brevemente enquanto um professor já puxava outro assunto com ele.
O único problema foi que eu não gravei, ou o gravador não quis gravar, ou eu não soube fazer o gravador gravar, ou eu não consegui falar com ele. Não sei, só sei que foi assim.