Batida causada por motorista bêbado mata mãe e filha e põe em cheque a relação do condutor com o álcool Parte superior do formulário
- Advertisement -
Era um sábado de festa. A família da pequena Júlia, de um ano e cinco meses, chegou a um compromisso na casa de parentes no Park Way do Aeroporto, próximo ao Gama, por volta das 20h, e por lá ficou até meia-noite e meia, mais ou menos. No caminho de volta para casa, em Águas Claras, o destino de Júlia, de sua mãe, Alessandra, e de seu pai, Gabriel, esbarrou com um motorista bêbado em alta velocidade. Já na entrada de Águas Claras, no cruzamento com a DF-079, Rafael Sadite, 33, sua VW Saveiro e sua imprudência atingiram o Honda Fiat que levava Júlia, Alessandra e Gabriel, colocando um ponto final na história de mãe e filha, e abrindo uma enorme lacuna na família. Justamente na madrugada do Dia das Mães, domingo (11).
Seria o segundo dia das mães de Alessandra Tibau após o nascimento de Júlia. De acordo com a polícia, Rafael trafegava a mais de 100 quilômetros por hora e estava alcoolizado. Só no Detran, segundo fontes do órgão, são 19 infrações por vários motivos. Entre eles, dirigir embriagado, sem habilitação, excesso de velocidade e participação em rachas. Rafael estava proibido de dirigir desde 2010. A dívida com as infrações chega a R$ 3 mil. Logo depois de se recuperar da pancada que sofreu, Gabriel Oliveira, o pai, já no hospital, comentou com parentes: “Entrei devagar no retorno porque minha filha estava dormindo”.
O acidente reacendeu diversas discussões, principalmente acerca da bombástica mistura álcool e direção. De acordo com o Detran, de janeiro a março deste ano o número de motoristas flagrados alcoolizados caiu 7,3% em comparação a 2013. Segundo o Ministério das Cidades, são mais de 40 mil vítimas de acidentes de transporte por ano. Já a Líder Seguros, responsável pelo pagamento do DPVAT, afirma que esse número ultrapassa os 60 mil. Dessas, 40% são decorrentes da direção após o uso de álcool. É também a principal causa de morte de crianças de 1 a 14 anos em nosso país.
A lei seca, criada em 2012, provocou um aumento no número de motoristas autuados. De acordo com a lei e com o histórico recente dos últimos casos, hoje, a pessoa que bebe, dirige e mata, é indiciada por homicídio culposo (sem intenção de matar). Neste caso, se o autor for réu primário, pode pegar de dois a quatro anos de prisão. A habilitação pode ser suspensa por um ano. Segundo Rodrigo de Magalhães Rosa, da Segunda Promotoria de Delitos de Trânsito de Brasília, “com a ampliação dos meios de prova e a retirada do índice aceitável de álcool da lei, ficou mais fácil indiciar o infrator”.
Para muitos, a lei é suficiente, talvez dura demais. Mas para as 994.594 pessoas que assinaram a petição online Não Foi Acidente, que exige a aplicação de leis mais duras aos motoristas bêbados, a legislação é falha. A campanha pretende levar ao Congresso Nacional um projeto de lei de iniciativa popular que tem por objetivo aumentar as penas aos condutores alcoolizados. Seja ele envolvido em acidente com morte, sem morte, ou apenas por estar embriagado ao volante.
Outro artigo exige a tolerância zero ao álcool. Mauricio Januzzi, presidente da comissão de trânsito da OAB São Paulo, foi o responsável por redigir o texto. “Não podemos aceitar que crianças e jovens, que são o futuro do nosso país, continuem morrendo no trânsito por irresponsabilidade, também, das nossas leis. O Brasil clama por uma legislação que insira uma nova cultura no trânsito. Deve-se saber que beber e dirigir é crime e dá cadeia”, afirma Maurício. O projeto prevê pena de cinco a oito anos de reclusão para quem for pego alcoolizado ao volante, e sem direito a conversão da pena em serviços prestados à comunidade.
A íntegra do projeto Não Foi Acidente e também o formulário da petição pode ser assinado no site: www.naofoiacidente.org
- Advertisement -
40 segundos
O movimento Mãe e Amigas de Águas Claras se mobiliza nas redes sociais para chamar a atenção do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) sobre o perigo do cruzamento onde aconteceu o acidente no domingo (11). “Eles nos indicaram como caminho correto solicitar isso diretamente junto à área de engenharia para que eles possam tomar uma decisão em relação a isso”, afirma uma das mães. As moradoras pedem o fechamento do cruzamento e sugerem que o retorno seja feito num balão que fica a poucos metros adiante do local.
O DER informou que no local não há problemas de sinalização e que não há no órgão registro de acidente ocorrido no cruzamento. A equipe do Brasília Capital passou no cruzamento e optou por usar o balão de Águas Claras para calcular o tempo. Em horário de pouco movimento, “perdemos” apenas 40 segundos no trajeto. Vidas estão em jogo.