Em setembro de 2022 o Brasil inicia seu rumo ao
terceiro centenário, em grande parte decidido pelas
eleições de um mês depois, em outubro. Esta eleição não
vai escolher apenas quais medidas políticas serão tomadas
para os quatro anos seguintes; vai decidir se continuamos
com um governo insensível socialmente, negacionista
cientificamente e autoritário politicamente, ou se iniciamos
o novo centenário com um governo lúcido, sensível
socialmente, com vocação para o diálogo. A escolha não
será entre um ou outro programa de governo, mas entre
um ou outro modelo de política. É uma eleição diferente
das tradicionais, comparada apenas com a eleição indireta
de 1985 entre Maluf e Tancredo.
Apesar disto, no lugar de se unirem pelo NÃO ao
desastre, como no plebiscito do Chile para derrubar
Pinochet, os líderes e partidos democráticos estão divididos
e se antagonizando com as palavras “nem um nem outro”.
Os partidos que se consideram de esquerda não querem
nem Bolsonaro nem qualquer dos outros partidos que eles
consideram também de direita. Os partidos que se
consideram de centro não aceitam Bolsonaro nem o PT.
Esta divisão pode levar o Brasil à reeleição de Bolsonaro.
Tudo indica que no primeiro turno estarão Bolsonaro,
um candidato do PT e dois ou três candidatos de centro. Se
Bolsonaro ficar no primeiro turno e não conseguir liderar as
Forças Armadas, as policiais militares e as milícias para um
golpe contra o que ele dirá ter sido fraude, o segundo turno
escolheria entre dois democratas.
Mas se Bolsonaro for para o segundo turno, como as
pesquisas indicam, ele terá chance de vencer, porque se
for Bolsonaro contra o candidato do centro, provavelmente
muitos dos simpatizantes do PT se absterão ou votarão
nulo. Se for Lula contra Bolsonaro, muitos antibolsonaro
votarão também nulo ou viajarão, como aconteceu em 2018.
Porque no primeiro turno os antibolsonaro vão se
agredir, como tem sido feito contra Lula nas últimas
semanas. Isto fará incoerentes se apoiarem no segundo: o
eleitor não entende como se agridem e na semana
seguinte estão juntos.
É por isto que todos os defensores da democracia
deveriam se unir desde o primeiro turno. Escolher um
candidato que combine estar bem nas pesquisas em
preferência de voto com ter baixa rejeição,
independentemente de qual é seu partido. Este candidato
deve se comprometer a ficar apenas um mandato, exercer
com lucidez, com respeito à verdade a à ciência, enfrentar
os problemas sociais, recuperar o prestígio perdido no
exterior, buscar sustentabilidade de nossos recursos
naturais.
Todos juntos gritando “NÃO”, no lugar de “nem-nem”.
(*) Cristovam Buarque, ex-governador de Brasília, exclusivo para o
Brasília Capital