Aldemir Bendine assume hoje, oficialmente, a presidência da Petrobras com mais uma investigação pesando sobre seus ombros. O Tribunal de Contas da União (TCU) abriu dois procedimentos para apurar empréstimos concedidos pelo Banco do Brasil, do qual o executivo foi presidente, para a Torke Empreendimentos, empresa da apresentadora de tevê Val Marchiori. Na última sexta-feira, o Ministério Público Federal, que também investiga a operação, pediu à Polícia Federal a abertura de inquérito sobre o assunto.
A onda de processos contra Bendine só aumenta o descrédito dele entre os investidores, que reagiram muito mal à decisão da presidente Dilma Rousseff de nomeá-lo para o comando da Petrobras, em substituição a Graça Foster. Somente na sexta-feira, quando houve a confirmação da troca, a estatal perdeu R$ 8,5 bilhões em valor nas bolsas. O mercado viu a escolha da chefe do Executivo como política num momento em que a petroleira precisa de uma diretoria técnica para sair do atoleiro da corrupção, que sugou R$ 88,6 bilhões do patrimônio da companhia.
Segundo assessores de Dilma, o mercado exagerou na reação. No Palácio do Planalto, a visão é de que os investidores terão de “engolir” Bendine, pois não haverá recuo na decisão. A amigos, o novo presidente da Petrobras diz estar tranquilo. Acredita que, com o tempo, provará ser capacitado para tocar a maior empresa do país. Mesmo dentro do governo, poucos acreditam, uma vez que os órgãos de fiscalização não darão trégua no caso Val Marchiori.
Pelas investigações do TCU e do Ministério, o Banco do Brasil contrariou normas internas e ajudou a apresentadora a conseguir um empréstimo subsidiado no fim de 2013. Marchiori é amiga muito próxima do ex-presidente do BB. Documentos do banco mostram que a instituição aprovou, num primeiro momento, limite de crédito de R$ 3 milhões para a apresentadora. Depois, a instruiu a elaborar uma série de documentos sem os quais não teria acesso a um repasse aprovado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Bendine alega que tudo está dentro das regras, mas o TCU e o MP veem irregularidades.
Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), as investigações sobre Bendine só comprovam que a presidente Dilma errou na troca de comando da Petrobras, que ainda não divulgou o balanço auditado do terceiro trimestre de 2014. A empresa responsável por dar aval aos números, a PricewaterhouseCoopers (PwC), recusou-se assinar os demonstrativos, agravando a crise que assola a petroleira, investigada pela Operação Lava-Jato.