Bruno Santa Rita
Arte por Rebeca Santos
Músicos no Distrito Federal passaram a investir mais nos videoclipes por conta da divulgação em mídias alternativas, como o Youtube, Vimeo e Facebook. A evolução das mídias fez com que artistas passassem a se preocupar mais com o audiovisual, já que antes a única oportunidade de divulgação era por programas de TV.
Para eles, trata-se de uma nova forma de trabalhar a experiência sensitiva de suas produções com videoclipes que são, na realidade, uma variação da linguagem do cinema. Ao explorar aspectos cinematográficos em suas composições com narrativas mais curtas, os clipes ganham mais espaço para a exploração do aspecto técnico visual e de passeios psicológicos em personagens superficiais. Inclusive, 16 videoclipes vão participar no Curta Brasília, que começa no dia 15.
Segundo o diretor de cinema Caio Cortonesi, nesses produtos tenta-se dar uma dimensão visual para uma música que já existe e isso pode ser feito de diversas maneiras. “Você pode explorar o aspecto técnico, os aspectos visuais etc. Cada caso é um caso”, diz. Para Cortonesi, fotógrafos e pessoas ligadas à parte técnica são essenciais para trabalhar em clipes e aprofundar mais a liberdade de atuação na parte técnica.
Leia a entrevista com o diretor de cinema, Caio Cortonesi:
Caio Cortonesi acrescenta alguns dos detalhes que se podem notar nos videoclipes e não no cinema, como por exemplo, a questão do tempo de duração do vídeo, nos clipes muito curto e nos filmes, maior. Isso traz maior possibilidade de experimentação aos videoclipes para se trabalhar conceitos, enquanto no cinema, tem que se respeitar uma história, uma narrativa concreta e coesa, com começo, meio e fim. “No cinema, há toda uma preocupação de contar uma história coesa. Tem que fazer começo, meio e fim e levar a pessoa para passear por uma estrutura, por uma história que faça um certo sentido”, afirma o diretor.
A banda Etno trabalhou a fotografia do cinema em seu clipe de animação, Diário de Morte. Segundo os integrantes da banda, o enquadramento lembra um filme antigo com a temática do velho oeste.
A banda de rock brasiliense Etno entende bem do assunto cinema e videoclipe. O baterista da banda, Tiago Palma, dirigiu o videoclipe de animação gráfica “Diário da Morte”, que está concorrendo na categoria que avalia videoclipes do Festival Curta Brasília. Ele conta que a fotografia cinematográfica, os tipos de planos e o efeito dramático são inspirados no cinema a fim de trazer um sentimento “épico” para a música e para o clipe. “Foi uma forma que a gente encontrou de mostrar a temática e a estética com a técnica da animação”, diz o músico.
“Um filme tem um tempo maior para trabalhar os elementos característicos de um personagem. No clipe, a gente tenta explorar mais as características psicológicas do personagem já que o tempo é menor”, explica o vocalista da banda, Tiago Freitas, e acrescenta que o clipe “Diário da morte” é uma caminhada dentro do interior da protagonista.
Os integrantes da Etno acreditam que explorar novos horizontes artísticos como o cinema pode trazer grandes retornos, como a boa repercussão do trabalho.
Acessibilidade
Não são somente os diretores e os músicos que acreditam no videoclipe como linguagem cinematográfica. O Festival Curta Brasília faz duas mostras competitivas. Além de curtas metragens, também irá avaliar e premiar videoclipes. “Nós acreditamos muito nesse eixo clipe e cinema”, declara a idealizadora do festival, Ana Arruda.
Para a também organizadora do evento Ana Arruda, o videoclipe é muito mais do que apenas a promoção da banda e, sim, uma experiência sinestésica. Ela conta que o festival trouxe filmes para uma comunidade de surdos e perceberam que os deficientes auditivos permaneceram para a exibição dos videoclipes. “Eles têm a sensibilidade corporal, eles viram a música traduzida em imagens. O som amplificado que eles sentem pelo corpo”, conta.
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