Moradores cedem o espaço, evitam as pichações e mudam a cara da avenida.
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Elas conferem uma nova cara para a comercial mais antiga de Brasília. Algumas casas, entre as quadras 703 e 707 Sul, transformaram-se em telas para os artistas. Antes coração da capital, a W3 Sul é vista, há algum tempo, como um lugar meio abandonado e decadente. As paredes pintadas do lado comercial e as fachadas das casas na área residencial — conhecida como “as 700” —, no entanto, têm cumprido o papel de revitalizar a avenida, pelo menos no que se refere à estética. Os desenhos são variados. Há homenagens à capital, animais, monstros, bonecos, formas abstratas e outros. As cores chamam a atenção. As imagens compõem o cenário da arte urbana da capital e também ajudam os moradores no combate às pichações.
“O vizinho estava pintando a casa ao lado e perguntou se eu queria. Não me opus. Hoje, gosto muito. Acho que o governo poderia tomar conta da limpeza e das fachadas da comercial para ficar tudo bonito”, comenta a dona de casa Maria das Graças Abreu, 80 anos. Na quadra onde vive desde 1998, a 705 Sul, já são quatro casas coloridas, uma ao lado da outra. Maria das Graças não escolheu o desenho nem precisou pagar pelo serviço. Apenas cedeu a fachada da casa e um lanche para os artistas no decorrer do trabalho.
Há alguns anos, a residência vizinha à de Maria das Graças era conhecida como a casa colorida da avenida. Agora, as cores não servem mais como referência, pois várias outras também foram pintadas. Ela pertence ao Coletivo Sindicato, formado por componentes das empresas publicitárias Ilustrativa, Comoéquetálá e da turma do jornal Pimba. A entrada principal da casa dos artistas é um verdadeiro quadro a céu aberto e revela a criatividade e o potencial artístico do local. “Sem dúvida dá uma vida nova. As pessoas deveriam enxergar como um trabalho mesmo e valorizar isso”, avalia um dos sócios do Comoéquetalá Fabiano Figueiredo.
A função da pintura na casa do coletivo é decorativa e serve como um mural de divulgação do trabalho de artistas como Onio. O brasiliense é artista plástico, grafiteiro e ilustrador, com formação acadêmica em design gráfico. Há anos, carrega latas de spray na mochila e já fez intervenções em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Berlim e Barcelona. Outro artista que colore a W3 é o Yong, como costuma assinar. Para ele, a avenida se transformou no hall da fama do grafite em Brasília. “Por estar localizada no centro da cidade e ser muito acessível, pois as pessoas passam por ali diariamente a caminho do trabalho, escolas ou faculdade, ela (W3) sempre foi uma vitrine e tanto o comércio quanto as casas acabam ganhando um novo visual, muito mais vivo e divertido”, acredita.