Nathália Guimarães
De janeiro a setembro de 2025, o Detran, a Polícia Militar e o DER registraram mais de 15 mil multas de trânsito no Distrito Federal por circulação de veículos em locais proibidos, como calçadas, ciclovias e passeios. No mesmo período de 2024, foram cerca de 11 mil autuações. Portanto, uma alta de 36,4%, segundo dados enviados pelo Detran-DF ao Brasília Capital.
De acordo com o presidente do DER, Fauzi Nacfur Jr., a fiscalização das rodovias do DF é feita por agentes, com o auxílio de câmeras. “Observamos que carros de concessionárias acabam usando as áreas das ciclovias para prestar serviços. Essas vias, porém, não foram projetadas para o peso de veículos, apenas para bicicletas. Isso prejudica a estrutura e coloca ciclistas em risco. Não é certo utilizá-las para prestar um serviço e prejudicar outros. As ciclovias são para bicicletas”, alerta.
727 Km de ciclovias – A malha cicloviária na capital é de 727 quilômetros, muitos deles em áreas de integração nas regiões administrativas. Os investimentos em infraestrutura para a turma do pedal, aponta o DER, ultrapassam os R$ 27 milhões desde 2019. O objetivo é reduzir a emissão de poluentes e incentivar a mobilidade ativa.
Os espaços de livre circulação, porém, não são respeitados como deveriam por condutores. Dados do Departamento de Estradas de Rodagem mostram que oito multas foram aplicadas em veículos estacionados em ciclofaixas até agosto de 2025, contra dez na comparação com o ano anterior.
Quem comete essa penalidade está sujeito a multa de R$ 195,23 e cinco pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Já quem circula sobre as áreas delimitadas para ciclistas desembolsa R$ 880,41 e perde sete pontos.
Conscientização
Para manter motoristas, ciclistas e pedestres em harmonia e garantir a segurança de todos nas vias do DF, o Detran faz campanhas e ações permanentes de conscientização. Entre elas o projeto “Bike em Dia” e o “Circuito de Passeio Ciclístico”, em parceria com as administrações regionais.
Ao Brasília Capital, o Detran-DF afirmou em nota que “atua tanto na orientação de motoristas sobre o respeito aos ciclistas quanto na conscientização dos ciclistas sobre os cuidados necessários consigo e no trânsito”.
Também destacou que realiza atividades pedagógicas para crianças por meio de apresentações teatrais, blitzes educativas e ações em escolas públicas e particulares. “O objetivo é promover o respeito mútuo e a convivência segura entre todos os usuários”.
Mobilidade sustentável
O DF tem uma frota em circulação de 2,1 milhões de veículos, o que impacta diretamente em congestionamentos e escassez de estacionamentos. A ciclomobilidade ganha cada vez mais espaço nos grandes centros urbanos. Isso envolve, além de ciclovias e ciclofaixas, integração com o transporte público e políticas de incentivo à segurança e ao uso da bicicleta.
Um dos principais desafios é a conexão entre trechos cicloviários ainda fragmentados, especialmente fora do Plano Piloto. A Secretaria de Transporte e Mobilidade discute atualizações do Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU) e do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS), que são os mesmos desde 2011, quando o DF tinha cerca 500 mil habitantes a menos do que tem hoje. Os documentos, ainda em fase de elaboração, precisam ser submetidos e aprovados pela Câmara Legislativa, o que deve ocorrer apenas em 2026.
Para o ativista James Soares, membro da Rede Urbanidade, da Rodas da Paz e da Ciclovia Ativa, há vários problemas a serem resolvidos. “As calçadas de Brasília são ruins, não apenas no Plano Piloto, mas em todas as cidades. A falta de conexão e manutenção das ciclovias, a alta velocidade nas vias, que desfavorece ciclistas e pedestres, e o tempo de espera nos semáforos, que preza mais os carros do que as pessoas, além da ausência de paraciclos [bicicletários] na ponta, como em comércios, farmácias e escolas, impedem que as pessoas optem por deixar o carro em casa. Eu escolhi andar de bicicleta, mas a cidade não favorece a minha opção”, avaliou ele, em audiência realizada em julho.
Saiba +
Lançado em 2024 pelo GDF, o programa “Vai de Bike” tem como meta expandir a malha cicloviária para 3 mil quilômetros até 2026, reformar ciclovias existentes e instalar mil conjuntos de paraciclos (bicicletários), bem como implantar um sistema de compartilhamento com 300 bicicletas elétricas espalhadas pelas RAs.