Na reunião que tiveram com a presidenta Dilma Rousseff semana passada, representantes do movimento social negro defenderam a ideia de que o futebol é apenas uma entre as muitas instâncias da sociedade brasileira em que o racismo se manifesta. Na ocasião, as lideranças reafirmaram a necessidade de combater o racismo em todos os setores da área pública e privada. O encontro articulado pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e pela Secretaria-Geral contou com a participação da ministra Luiza Bairros e do ministro Gilberto Carvalho, titulares respectivos das duas pastas.
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“A grande contribuição que o movimento negro trouxe para essa discussão é que a questão principal não é o racismo na copa do mundo. A questão principal é o que existe nas sociedades e se manifesta no futebol. E todas as propostas apresentadas para a presidenta Dilma apontaram nessa direção”, declarou a ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros. Ainda assim, de acordo com a chefe da Seppir, o governo está empenhado na realização de uma campanha pela ‘Copa contra o racismo’.
“A escravidão foi substituída por relações de subordinação social por causa do racismo”, destacou a presidenta Dilma Rousseff. Antes da reunião com o movimento negro, ela recebeu o jogador do Cruzeiro, Tinga, e o juiz Márcio Chagas da Silva, ambos vítimas de racismo em partidas de futebol no Peru e no Rio Grande do Sul.
De acordo com a ministra Luiza Bairros, a reunião deu continuidade a uma série de iniciativas que vêm sendo adotadas pelo governo federal no sentido de deixar evidente para a sociedade brasileira que o racismo é repudiado pelo governo e que, portanto, também a sociedade deve se mobilizar para combatê-lo. “A presidente se mostrou muito comprometida com a causa”, afirmou Helcias Roberto Paulino Pereira, dos Agentes Pastorais Negros. Já Clédisson Júnior, do Enegrecer, disse ter considerado que a reunião foi uma conquista para as demandas da população negra e que voltava para casa “convencido da marca do gol”.
Transversalização da questão racial
Na avaliação de Ana Flávia Magalhães Pinto, o momento exige investimentos na estratégia de pautar as áreas para a transversalização da questão racial no âmbito do governo. Representante da Campanha ‘A Cor da Marcha’, ela reforçou a necessidade de retomar o diálogo com os ministérios e destacou a importância do fortalecimento das mídias alternativas no processo de democratização da comunicação. “O governo precisa encontrar meios de investir nas mídias alternativas”, completou.
Saúde da População Negra
Representando o Instituto Odara, Emanuele Góes sugeriu que o Ministério da Saúde (MS) seja priorizado na retomada do diálogo com as áreas de governo, visando à implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN). Um dos principais pontos da pauta é a instalação de uma instância no MS para cuidar da Política, que foi aprovada pelo Conselho em 2006, oficializada pelo MS em 2009 e inserida no Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288, de 2010).
Juventude
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Valdina Pinto, Makota do Terreiro Tanuri Junsara, destacou a importância das representações jovens na reunião, defendendo que o segmento terá a responsabilidade de dar continuidade aos avanços dos últimos anos na questão racial, já que “ainda há muito a ser conquistado”. Ela se referiu à participação de Douglas Elias Belchior (Uneafro Brasil), que propôs ao movimento a construção de uma dinâmica para que as demandas da população negra sejam mantidas na agenda do governo.
Esse foi um dos aspectos bastante enfatizados nas reuniões de hoje, que é justamente de utilizar as ações do governo federal para mobilizar outras instituições inclusive dentro do judiciário para que todo esse corpo de legislação possa ser utilizado de modo mais efetivo em favor da punição dos crimes de racismo.