Mario Pontes (*)
Há pouco mais de uma semana, no último dia 12 de abril, dois edifícios de quatro andares, construídos no local chamado Muzema, na zona Oeste do Rio de Janeiro, desabaram até o pedaço de parede mais próximo do alicerce, produzindo vinte e quatro cadáveres. Muzema não é a designação de algum obscuro lugar. Situa-se a algumas dezenas de quilômetros do centro da cidade, onde se situam a sede da Prefeitura e seus órgãos responsáveis pelas licenças de construção, assim como os rotineiros atos de fiscalização que a elas se espera venham a ocorrer. Mas, ao que tudo indica, não ocorrem, pelo menos com a frequência necessária e devida!
Muzema é um pedaço de terreno plano, situado não no fim do mundo, mas entre Jacarepaguá e a Barra da Tijuca, a extensa praia na qual se erguem muitas dezenas de moderno e elevados edifícios residenciais. Junto deles, um grande número de construções nas quais funcionam vários centros comerciais, cujo exemplo mais conhecido é o Barra Shopping –visitado diariamente por dezenas de milhares de pessoas –, cinemas, teatros, hospitais, igrejas, centros esportivos. A Muzema situa-se à esquerda de quem usa a Avenida Ayrton Senna para ir, por exemplo, de Jácarepaguá para a Barra. Bem próxima, exposta a todos os olhares.
Ali, em solo o mais inconveniente, os dois edifícios foram construídos ao lado de vários outros de porte semelhante. No mesmo terreno, com seus riscos e inconveniências, bem à vista dos cariocas e, certamente, de autoridades que moram na extensa área da Barra. O que fizeram elas para evitar o desastre? A rigor, nada. Esperaram, como sempre, que o desastre ocorresse, para depois de alguns adjetivos constantes do habitual vocabulário da lamentação, elevarem a voz a fim de prometer ou garantir:
— Vamos investigar!
Porque não investigaram antes, isso jamais foi explicado. A primeira vez que ouvi essa frase, dita por uma autoridade carioca, foi lá pela metade do século passado, quando eu acabava de me tornar morador do Rio. Como é frequente por aqui, chuvas fortes caíram sobre a cidade, no começo do ano, algumas com resultados fora do comum. O mais espetacular foi a queda de um edifício – de oito andares, se bem me lembro – absurdamente erguido no meio da encosta de um morro de barro vermelho, não em algum subúrbio distante habitado por trabalhadores analfabetos, mas de Laranjeiras, um dos bairros aristocráticos do Rio, bem perto do centro.
Talvez ainda estejam investigando o fato, quem sabe!…
(*) Jornalista, morador do Rio de Janeiro