Ações de plantio, cuidado, colheita e consumo, antes exclusivas na área rural, agora se disseminam em meio ao movimento da capital. A prática da sustentabilidade transforma áreas urbanas de Brasília. Embaixo dos blocos, próximos às casas e nas esquinas de cidades fora do Plano Piloto, produtos orgânicos unem brasilienses em prol da chamada agricultura urbana. Espaços públicos, antes abandonados e malcuidados, viraram ponto de encontro e trabalho em conjunto. As hortas comunitárias no Distrito Federal ajudam no resgate do solo, transformam os locais em práticas terapêuticas e oferecem uma abordagem pedagógica. Tudo isso reunido a espécies de plantas, ervas, leguminosos e frutíferos pronto para ir à mesa. Qualquer pessoa da comunidade pode, gratuitamente, consumir os produtos.
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No fim da Asa Norte, em uma área verde próximo ao Lago Paranoá, Alda Duarte, 42 anos, cuida com afinco das plantações de mudas. A horta comunitária surgiu com três canteiros iniciais, em 20 de dezembro do ano passado. Quase cinco meses depois, o local já conta com oito espaços de plantações. O grupo é formado por 30 voluntários que, ativamente, cuidam e frequentam o espaço. Do total, seis deles são agrônomos. A ideia surgiu da analista ambiental e consultora. Como ela já fazia o trabalho de jardinagem e paisagismo ornamental, pensou em construir uma área para plantação e levou a proposta aos demais moradores. “A intenção era fomentar a vida da comunidade por meio da horta sustentável. A proposta é revitalizar os espaços e unir a população em causas ambientais. Desde o surgimento da horta, cessou a ocupação de moradores de rua aqui, porque eles se sentem inibidos coma nossa presença”, contou.
Mãe de uma menina de 9 anos, Alda ressaltou a melhora do consumo de frutas e legumes após a horta comunitária. “O espaço contribui para a resiliência ambiental urbana e a segurança alimentar. É uma espécie de reeducação, porque as crianças começam a experimentar o verde. É um prazer colher aquilo que se planta, já que vivemos em um ambiente urbano”, acrescentou. Moradora da 216 Norte, Casandra Manes, 58, é uma das que participam ativamente do espaço. Ela ajuda a conservar o local e faz a limpeza voluntária quando caminha pelas manhãs. “Essa é a minha terapia de todos os dias. Ter esse espaço no meio da cidade é fantástico”, disse.
Engajamento
Existem, hoje, cerca de 20 hortas espalhadas pelo DF (veja quadro), segundo a Secretaria de Meio Ambiente (Sema). A Subsecretaria de Educação e Mobilização Socioambiental informou que o órgão apoia grupos de agricultura urbana em rodas de conversa, com objetivo de regularizar a Lei nº 4.772, de 24 de fevereiro de 2012. Ela estabelece diretrizes para as políticas de apoio à agricultura urbana e periurbana no DF. Além disso, a Sema ressaltou que tem se envolvido nas discussões para assegurar os espaços das hortas no DF. No fim da tarde, o perfume do alecrim, capim-santo e hortelã costuma invadir o ar. Beterraba, jiló, batata-doce, milho, cenoura, tomate e pimenta-de-cheiro compõem a maioria das hortas. As folhas verdes também pedem espaço. É o caso da alface, do agrião, da couve e do almeirão. Os temperos marcam presença: salsinha, manjericão, coentro e açafrão-da-terra estão entre os principais da lista. Por fim, maracujá, limão, acerola, mamão, banana e amora oferecem aos adeptos a felicidade de colher frutas no pé.
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