O aumento da população em situação de rua tem gerado preocupação em Taguatinga nos últimos meses, especialmente entre os residentes próximo a instituições públicas que acolhem essas pessoas. Os moradores apontam aumento de ocorrências como furtos em lojas e discussões sobre ocupação de calçadas e sujeira nas ruas.
O administrador regional, Bispo Renato Andrade, tem participado de reuniões explicando que o problema é complexo, porque envolve aspectos sociais, econômicos e de saúde pública. A situação se agravou a partir da publicação da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 976, apresentada ao Supremo Tribunal Federal.
A medida visa proteger os direitos da população em situação de rua. Em uma decisão de julho, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, proibiu remoções forçadas e a apreensão de bens pessoais dessas pessoas, destacando a necessidade de se preservar a dignidade humana.
Em cumprimento à decisão do STF, o Governo do Distrito Federal adotou as diretrizes, incluindo a criação de um Grupo de Trabalho para desenvolver e implementar políticas públicas voltadas à população em situação de rua. Mas, até o momento, não foram apresentadas sugestões ao Poder Público.
Empatia e medo
Os moradores da cidade reconhecem as dificuldades enfrentadas por muitas pessoas em situação de rua. Mas relatam temor diante da agressividade de alguns deles, especialmente quando não recebem o auxílio solicitado, seja dinheiro ou outro tipo de ajuda.
Uma moradora da cidade há 32 anos, que não quis se identificar, ressaltou que “a presença dessas pessoas, por si só, não é o problema”. O que causa transtornos, segundo ela, são as dificuldades enfrentadas por alguns, como o vício em drogas e álcool.
Ela destacou que nem todos os moradores de rua criam problemas ou são dependentes químicos, mas as adversidades tornam a situação complexa. “É importante não estigmatizar quem vive nas ruas, mas também não podemos ignorar os problemas que acompanham essa realidade”.
Álcool, drogas e distúrbios mentais
Relatos de violência envolvendo pessoas em situação de rua, muitas vezes sob efeito de drogas ou álcool, são frequentes, assim como comportamentos que sugerem possíveis distúrbios mentais.
A moradora afirmou que, embora seja difícil afirmar com certeza, é muito provável que alguns tenham problemas de saúde mental. “O comportamento de alguns deles nos faz levantar essa hipótese”. E ponderou: “O problema é complexo e não deve ser generalizado”.
Indignação
A empresária Janete Taveira descreve uma situação alarmante em Taguatinga Sul. “Há lixo espalhado por toda parte, objetos jogados e um número crescente de pessoas nas ruas. Nunca vi tantos moradores de rua em Taguatinga como agora. Eles são itinerantes, você passa por ali e depois já não estão mais. Mas um até montou uma casa perto da farmácia, com colchão, cadeira velha e sombrinha. Já vi ratos por lá comendo os restos de comida que ele deixa no chão”, conta.
“A situação está insustentável. É urgente uma ação mais eficaz da Assistência Social. A sujeira também atrai muitos pombos e escorpiões, tornando este lugar inadequado para a população que paga impostos, o que desvaloriza nosso patrimônio”, diz a empresária. No domingo (20) à noite, ela presenciou um morador de rua rasgando os sacos de lixo na quadra onde mora e usando o espaço público como banheiro”.
Cléo, outra antiga moradora de Taguatinga, expressou sua indignação. Segundo ela, a convivência tornou-se insustentável, principalmente porque muitos são usuários de álcool ou drogas. “Sou abordada diariamente por algum deles pedindo dinheiro. Quando não tenho nada a oferecer, sou ameaçada com paus, pedaços de ferro e até armas brancas. “Perdemos o direito de ir e vir. Essas pessoas tomaram conta das ruas e calçadas, que agora são usadas para necessidades fisiológicas e sexuais”, desabafa”.
A moradora alerta que o problema está afetando diretamente a qualidade de vida em Taguatinga, e apela às autoridades para que forneçam ajuda adequada a essas pessoas. “Queremos que eles saiam das nossas portas e recebam o auxílio necessário”.
Outro morador, que também preferiu não ser identificado, relatou preocupação com a coleta de recicláveis. De acordo com ele, algumas pessoas, seja para bancar um vício ou para garantir um sustento digno, rasgam sacos de lixo à procura de latinhas e outros materiais e deixam o lixo espalhado, que acaba não sendo recolhido pelo Serviço de Limpeza Urbana, causando a proliferação de ratos, insetos e pombos.
Comércio em alerta
Um comerciante, que igualmente pediu reserva de sua identidade, relatou ter sido vítima de furto em seu estabelecimento. Apesar de adotar uma postura amigável e cordial com as pessoas em situação de rua, ele admite que vive em constante alerta.
“Fazemos a política da boa vizinhança. Alguns passam, dão bom dia, me conhecem pelo nome”, disse. No entanto, ele admite ter medo de sofrer novos prejuízos. “No fim das contas, eu sei que, a qualquer momento, podem me pregar uma peça, até tacar fogo na loja, porque agora isso está na moda”, afirmou, referindo-se ao aumento recente de incêndios criminosos em comércios.
O comerciante destacou que, embora muitos moradores em situação de rua tenham uma atitude pacífica, o comportamento mais agressivo de alguns aumenta a sensação de insegurança. “Dependendo da situação, eles podem ficar ariscos”, observou. “É difícil prever possíveis conflitos ou atos violentos”.
Saiba +
As causas que levam as pessoas a viver nas ruas vão desde a falta de emprego, problemas familiares, dependência química, doenças mentais e precariedade das políticas públicas de assistência social. Dados do Ministério da Cidadania apontam que a crise econômica agravada pela pandemia de covid-19 teve um impacto significativo, aumentando o número de pessoas que perderam seus lares e suas fontes de renda. A intersecção desses fatores exige uma abordagem abrangente para buscar soluções efetivas para a reintegração dessas pessoas na sociedade.