Maria Félix Fontele (*)
Neste Dia das Mães, quando o Rio Grande do Sul padece debaixo das águas indômitas, com enxurradas levando mulheres, crianças e idosos para o abismo da dor e da morte, é impossível não voltarmos as atenções para essa realidade.
Os temporais têm revirado as nossas vidas, sacudido o nosso chão. Ficamos impotentes diante do desarranjo da natureza, a tal ponto que não podemos mais demarcar, com precisão, o movimento das estações. Assim, ora temos chuvas intensas, ora seca, frio e calor extremos, numa espécie de alteração do estado natural das coisas.
Então, não podemos fingir que tudo está bem, em nome da acumulação de riquezas, tendo como argumento o conceito medieval de que o homem pode usufruir e devastar a terra ao seu capricho.
Depois, quem paga o alto preço pelas emissões de gases do efeito estufa, da devastação, do desmatamento e das guerras são quase sempre os mais pobres, subjugados em encostas de morros e à beira de precipícios. E amanhã poderá ser qualquer um.
Mas, o que fazer hoje? Penso que, neste momento, precisamos exercer o poder da doação genuína, a que vem do coração das mães, reafirmando o desejo de querer um mundo melhor, mais bem nutrido, física e moralmente.
Com ou sem tempestade, as mães se desdobram para alimentar, educar e proteger os filhos de qualquer ameaça. Miremos nelas: mulheres que praticam habitualmente o amor incondicional, com aquela “mania de ter fé na vida”, como canta Milton Nascimento em sua icônica música “Maria, Maria”. E, assim, elas preservam e cuidam para que o futuro de sua prole seja abundante.
O que a natureza parece nos dizer, é que devemos exercer o nosso poder de doação diariamente, e não só quando há catástrofes e datas especiais. Pois, assim, só estaremos remediando e piorando as coisas.
Portanto, é necessário que entendamos o recado das águas bravias, de que é imperioso que retornemos à trilha da naturalidade, do deixar fluir todos os rios em busca do mar, do plantar e do regar, do ato simples de não jogar lixo a céu aberto.
Que todas as mães – algumas, “solo” (pois são mães e pais ao mesmo tempo) –, recebam o nosso carinho e atenção, sobretudo as que vivem em situação de risco e tentam se reinventar.
Cuidemos da mãe Terra com o mesmo afeto que temos por nossas mães e elas têm por nós.
Parabéns, todas mamães!
(*) Jornalista e escritora