Órgão responsável pela fiscalização dos gastos do governo federal, o Tribunal de Contas da União (TCU) tem funcionado como espécie de agência de viagens para os seus ministros. É o que revela reportagem da rádio CBN, que teve acesso à relação de viagens e despesas dos ministros com passagens aéreas e diárias bancadas com dinheiro público. Em média, cada ministro passa 41 dias do ano viajando.
Só em 2017, o ex-presidente do TCU Aroldo Cedraz passou 61 dias em viagem, 56 deles no exterior. Foram mais de R$ 72 mil em diárias e passagens. Nesse período, esteve 11 dias nas Bahamas, 17 em Lisboa, 13 em Viena, 12 em Amsterdã e quatro em Bogotá.
Cedraz ficou 12 dias na Holanda para um evento da Organização das Nações Unidas (ONU) que durou um único dia. Segundo a CBN, ele passou 171 dias no exterior, visitando 17 países, apenas nos últimos dois anos e meio.
Considerando-se os trajetos nacionais e internacionais, o ministro Augusto Nardes foi o que mais viajou desde 2015. De lá para cá, foram 264 dias fora de Brasília, quase nove meses. Ele passou por 11 países nos últimos 30 meses. Apenas neste ano, Nardes esteve fora 50 dias. Desses, 20 no exterior. Nos Estados Unidos, o ministro ficou 14 dias para um congresso na Universidade da Pensilvânia que durou dois dias. Ele alega que houve erro de digitação e que o evento durou cinco dias. Na Armênia, foram nove dias para um congresso de apenas três.
“Eu estou com 65 anos, estou viajando em classe econômica, para fazer uma viagem e preparar uma palestra em língua estrangeira [não é fácil]. Com 32 anos eu aguentava ficar duas noites sem dormir. Hoje eu não consigo. É uma viagem extremamente cansativa e dura na Armênia”, justificou Nardes à CBN. Ele atribuiu o grande número de dias que passa fora de Brasília à sua militância em prol da governança.
Já o ministro Bruno Dantas ficou 15 dias em Roma em julho. Em 2016 passou dois meses inteiros nos Estados Unidos para fazer um curso bancado pelo tribunal ao custo de R$ 139 mil. Em 2015, ficou um mês lá para um curso de R$ 80 mil. Segundo ele, as viagens se devem ao seu extenso currículo acadêmico.
Em resposta à CBN, o TCU informou que os ministros viajam para cumprir missões oficias ou treinamentos, por designação do presidente da corte, levando em conta o interesse público. A reportagem é da rádio é de Guilherme Balza e Juliana Causin.
Supersalários
Chama atenção também os altos salários no TCU. Entre janeiro e julho deste ano, quase todos os nove ministros do TCU receberam salários brutos acima do teto constitucional, que é a remuneração dos ministros do STF, de R$ 37.476. Neste ano, isso só não aconteceu com Bruno Dantas, em quatro meses, e com Ana Arraes, em dois meses.
Em média, cada ministro recebeu R$ 48 mil reais por mês brutos. O salário mais alto é de Raimundo Carreiro, R$ 54,2 mil reais mensais.
O salário líquido dos ministros do TCU também foi maior que os do STF em todos os meses do ano, exceto em junho.
O advogado Luciano Santos, diretor do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, critica o fato de os ministros serem indicados pelo presidente e pelo Congresso.
\”Normalmente são ex-parlamentares que acabam sendo premiados por cargos vitalícios. Os tribunais têm um corpo técnico muito qualificado. Eles poderiam ser os conselheiros nomeados para terem essa responsabilidade, mas o que acaba acontecendo é um prêmio em que quem nomeia o conselheiro é aquele que será fiscalizado também, no caso do TCU é o presidente da República. Temos aí um grande desvio, um grande problema.\”
Dos nove ministros do TCU, cinco são investigados ou citados na Lava Jato. São eles Aroldo Cedraz, Vital do Rego, José Múcio Monteiro, Raimundo Carreiro e Augusto Nardes, este último também investigado pelo STF no âmbito da Operação Zelotes.
} else {