Não se trata de valentia explícita, mas há algum tempo que perdi o medo daquela senhora magrela e feia, que circula por aí com a longa foice na mão, até porque já escapei algumas vezes de atravessar o rio Jordão na inexorável viagem sem volta: caí de avião duas vezes, levei flechada de índio, consegui me livrar da peixeira de um assassino que jogou a mulher dentro de um poço e sobrevivi na cobertura jornalística da invasão de São Domingos por fuzileiros norte-americanos, em 1965, quando um obus de canhão explodiu em cima da ambulância em que me encontrava, matando quatro criancinhas, uma médica e o motorista – só eu escapei, ileso, vendo estrelas de fogo.
No entanto, confesso que, a esta altura do calendário, com nada menos de 90 anos e 6 meses de idade cronológica, fico um tanto quanto cabreiro ao ler ou ouvir notícias sobre óbitos de pessoas famosas, a exemplo do octogenário Cauby Peixoto. Mas me senti revigorado e feliz com a presença recente, aqui em Brasília, da cantora e atriz Bibi Ferreira, interpretando, aos 93 anos de vida bem vivida, o repertório de Frank Sinatra, de quem sou fã de carteirinha, apesar do desrespeitoso “contra” que sofri, ao tentar entrevistá-lo em NY, quando seu filho Sinatra Jr. foi sequestrado em 8 de dezembro de 1963 e solto dois dias depois, mediante pagamento do resgate de 240 mil dólares.
Devido à pouca grana, não posso rever Bibi Ferreira no palco, desde 1962, no Rio, na reportagem que fiz para a revista Manchete sobre o musical My Fair Lady, que ela protagonizou com a sua bonita voz de soprano. Filha do genial Procópio Ferreira e da bailarina espanhola Aída Izquierdo, aos 7 anos Bibi já se destacava na Escola de Dança do Teatro Municipal da então capital da República, complementando seus estudos de artes cênicas em Londres. Poliglota, unindo cultura e talento, se apresentou em peças teatrais tradicionais com tamanho brilhantismo que em Piaf, A Vida de Uma Estrela,críticos admitiram que Bibi incorporara a alma da célebre cantora francesa, tal a semelhança do peculiar timbre de voz de Edith Piaf.
Quanto à minha reação ao show de longevidade de Minha Querida Lady, me imprimindo a alegria e vontade de viver (porém que continue lúcido e útil aos meus semelhantes), só posso dizer, contritamente: muito obrigado, Bibi Ferreira!
Meus livros, meus tesouros
O craque “Imortal” que não pendurou as chuteiras
O Golpe Militar que só foi confirmado 50 anos depois