J. B. Pontes (*)
Os militares procuram, a qualquer custo, alterar a realidade dos fatos históricos relacionados ao período da ditadura militar, que perdurou por longos 20 anos. A recente nota alusiva ao 31 de março foi de envergonhar o Brasil. E deveria envergonhar a eles também. Ao contrário do que querem nos fazer acreditar, a ditadura militar foi um “período sombrio”, que enlameou a nossa história.
Durante a ditadura, não tendo argumentos sólidos para calar as vozes dissidentes, os militares adotaram a violência, a tortura, a perseguição e o assassinato, especialmente contra os jovens que sonhavam e lutavam por uma sociedade mais justa, igualitária e solidária.
Entrincheirados em ministérios, estatais e em mais de 7 mil cargos comissionados, os milicos nunca estiveram, ilusoriamente, tão convictos da sua superioridade intelectual e moral. Mas só eles acham isso…
Aproveitam-se deste momento político, quando um governo de extrema-direita, comandado por um insano, ou melhor, por uma família hipócrita e mentirosa, lhes dá respaldo, para tentar relacionar o período da ditadura militar com democracia e liberdade, numa insensatez absurda.
Em verdade, as investigações históricas já registraram o caráter ditatorial, violento, autoritário e criminoso que caracterizou aquele triste período. Lutar para que ele jamais se repita é dever de todo cidadão consciente.
A índole omissa do povo brasileiro, associada à covardia das autoridades civis constituídas, impediu que a verdade fosse estabelecida, com a imposição de punições aos militares sabidamente envolvidos com práticas delituosas, a exemplo do que ocorreu no Chile e na Argentina.
Isso permitiu que o período ditatorial fosse superado, com a devolução tutelada do poder aos civis, sem que nenhum militar fosse punido.
No Estado Democrático de Direito, o papel das Forças Armadas é precipuamente a defesa da Pátria contra eventuais agressões externas e a garantia da lei e da ordem, de forma a possibilitar a segurança que a sociedade civil necessita para viver em harmonia.
Mas eles, sem nenhum amparo na Constituição Federal, sonham serem tutores da sociedade civil.
Enquanto eles não forem obrigados a entender que isso é inaceitável, não passaremos de uma “república de bananas”.
(*) Geólogo, advogado e escritor