Tudo leva a crer que me alfabetizei muito cedo, porque lembro que meu pai colocou uma Bíblia nas minhas mãos por volta dos quatro anos de idade. Desde então, o hábito da leitura ficou sendo o meu lazer preferido. Só a lamentar que, hoje, com a magra aposentadoria pelo INSS de pouco mais de dois salários mínimos, não tenho numerário disponível para comprar livros usados no Sebinho da 407 Norte, até porque mal sobra para os remédios.
Mas sem essa de chororô. Afinal, sou dono de verdadeiro tesouro acumulado por obras assinadas por excelentes escritores e que, acredito, ainda não foram suplantados, da mesma forma como os filósofos gregos. Essas joias da literatura estão bem guardadas nas estantes embutidas nas paredes da sala e dos quartos aqui de casa, inclusive ao alcance de minhas mãos no escritório de dois metros quadrados, meu pedaço terrestre de paraíso.
No rol desses autores bem-amados, um dos mais profícuos é o australiano Morris West. Após sua morte aos 83 anos, ele deixou o acervo de nada menos que 26 romances, alguns dos quais caracterizando o modus-operandi de países do mundo inteiro. Em “Alecrim”, por exemplo, revela como grupos poderosos conseguem interferir na economia de nações capitalistas, manipulando fraudes nos computadores para controlar a oscilação nas Bolsas de Valores, aliado ao respectivo domínio da mídia na imprensa.
Em “Advogado do Diabo” e “As Sandálias do Pescador”, West realça o poderio do Vaticano e os dramas de consciência de padres e bispos. Permanecendo 12 anos internado num mosteiro de frades, em sua autobiografia, “Do Alto da Montanha”, confessa que renunciou ao sacerdócio quando descobriu que estava sendo vítima de “lavagem cerebral” da parte de seus superiores.
Sempre transformando fatos reais em ficção, no romance “O Embaixador” revela a trama de um Golpe Militar no Vietnan e o investimento em 1 milhão de dólares por uma potência estrangeira, comprando o apoio de um pequeno grupo de generais. Aliás, igualzinho o que foi tramado em nosso País, em 1964; e no Chile, em 1973.
Com sua espantosa premonição, é uma pena que não sobrou tempo para que Morris West escrevesse mais um livro, dando as dicas de como o Brasil poderia sair do atoleiro político, econômico e social em que se encontra, atualmente.
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