Aos 84 anos de idade cronológica, Josemir Barbosa (o maior seresteiro que conheço) mostrou que contínua com a voz mais rica do que nunca, ao ouvi-lo numa festa aqui em Brasília. Sobre esse barítono fora de série, que continua subvivendo com salário mínimo, somado às apresentações em bares e festas comemorativas particulares (raras), já escrevi uma crônica aqui neste cantinho de página, intitulada O Nosso Frank Sinatra, comparando a pobreza material do brasileiro com o crooner norte-americano, que se aposentou milionário.
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Em seu variado repertório da MPB, JB incluiu músicas de Sérgio Bittencourt, misto de jornalista e compositor de mesmo nível de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, mas que ficou esquecido pela mídia. Mesmo quando se encontrava no auge da glória efêmera de artista, SB não gozava da estima de seus coleguinhas jornalistas, devido ao seu tipo arrogante. Também me inclui nesta lista de desafetos gratuitos, com agravante de que certa madrugada lhe disse alguns desaforos, a troco de nada.
Só depois de sua morte precoce, aos 38 anos, todos nós que demonstrávamos antipatia explícita, ficamos sabendo o tamanho da generosidade de Sérgio. Simplesmente, ele sustentava um hospital para crianças hemofílicas, até porque ele também sofria desta traiçoeira doença. e ninguém sabia. Até hoje, 35 anos depois, não consegui exorcizar o arrependimento por minha intransigência, agravada pelas palavras grosseiras à queima roupa. Por isso, peço perdão póstumo a esse poeta da Música Popular Brasileira, se é que ele possa me ouvir no patamar em que se encontra no Oriente Eterno, porque praticava o Bem sem alarde, uma atitude verdadeiramente cristã.
Movido por esse ato de contrição tardio, não resisti à enxurrada de lágrimas, no show de emoções que Josemir proporcionou, na última terça-feira, dia 05, no 32º Aniversário da minha filha Fernanda. Ao ouvi-lo interpretar Naquele Mesa, homenagem que SB fez ao seu famoso pai Jacó do Bandolim, principalmente nas duas últimas estrofes: …”Eu não sabia que doía tanto / Uma mesa no canto, uma casa e um jardim / Se eu soubesse quanto dói a vida / Essa dor não doía assim… Agora resta uma mesa na sala / E hoje ninguém fala de seu bandolim. / Naquela mesa tá faltando ele / E a saudade dele tá batendo em mim.”.