Tersandro Vilela (*)
A recente decisão da Meta – controladora do Facebook, Instagram e Threads – de encerrar suas políticas de moderação de conteúdo tem gerado intensos debates sobre o potencial aumento da desinformação no cenário digital.
Até então, a Meta utilizava verificadores de fatos independentes para identificar e sinalizar informações falsas ou enganosas. Contudo, Mark Zuckerberg, CEO da empresa, anunciou que passará a adotar o sistema “Notas da Comunidade”, semelhante ao utilizado pelo X (antigo Twitter), de Elon Musk.
As mudanças começaram a valer nos Estados Unidos na terça-feira (7) e, segundo Joel Kaplan, vice-presidente de assuntos globais da Meta, devem ser gradativamente implementadas em outros países.
Zuckerberg justificou a decisão alegando que o modelo anterior gerava “muitos erros e censura demais” e que seria necessário retornar às “raízes da liberdade de expressão”.
Reações – A mudança provocou alertas de especialistas e entidades. O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) destacou que a substituição de verificadores independentes por notas comunitárias, aliada à redução de filtros de moderação, pode intensificar a disseminação de desinformação, discursos de ódio e conteúdos nocivos.
O Ministério Público Federal (MPF) cobrou explicações da Meta sobre como pretende lidar com esses desafios, especialmente em contextos sensíveis, como os períodos eleitorais, por exemplo.
Impactos da desinformação
No campo político, a desinformação tem potencial para interferir nos processos eleitorais, comprometendo a capacidade dos eleitores de tomar decisões informadas e colocando em risco a integridade democrática. Notícias falsas podem polarizar debates públicos e dificultar consensos, agravando divisões sociais e criando obstáculos à governabilidade.
Na saúde, o impacto pode ser devastador. A propagação de informações erradas, como boatos sobre tratamentos ou vacinas, pode levar a comportamentos prejudiciais e comprometer campanhas de saúde pública. Essa desconfiança em medidas preventivas e em instituições científicas pode gerar crises sanitárias de grandes proporções.
A educação também está em risco. A disseminação de conteúdos falsos compromete o desenvolvimento de habilidades críticas nos estudantes e perpetua mitos que podem prejudicar a formação cidadã. Sem um filtro efetivo, o ambiente educacional pode ser invadido por informações enganosas, dificultando a construção de uma base sólida de conhecimento.
Na economia, a circulação de boatos pode causar instabilidade nos mercados financeiros e prejudicar o planejamento empresarial. Informações falsas sobre empresas ou políticas econômicas podem abalar a confiança de investidores e consumidores, gerando impactos negativos no crescimento econômico do país.
Um bem público essencial
Diante desse cenário, torna-se imperativo que instituições públicas e privadas desenvolvam estratégias eficazes para mitigar os efeitos da desinformação. A criação de um ambiente digital confiável depende de esforços coordenados que priorizem a educação midiática e a regulamentação responsável das plataformas. A integridade da informação é um bem público, e preservá-la é essencial para o futuro democrático, econômico e social do Brasil.
(*) Jornalista pós-graduado em Filosofia, especialista em Liderança: gestão, resultados e engajamento, e mestrando em Inovação, Comunicação e Economia Criativa