Saí de Brasília no dia 9 de agosto rumo ao Sul de Minas Gerais. Percorri várias cidades de Goiás, Minas, São Paulo e Rio de Janeiro. Ao contrário de João Guimarães Rosa – que em 1952 partiu em comitiva de Cordisburgo (MG) para um mergulho no “Brasil profundo” pelo interior de Goiás, Minas e Bahia, anotando tudo o que via e vivenciava para, ao final, escrever o clássico Grandes Sertões: Veredas –, não tive o cuidado nem a preocupação de registrar nomes de personagens ou localidades.
Sem a mínima pretensão de comparar este breve relato à maravilhosa obra Rosiana, posso atestar que o resultado das urnas não surpreende quem percorreu o interior do Brasil com o dial do rádio no automático, sintonizando a programação das emissoras locais, pernoitou em hotéis de beira de estrada e assistiu a programação dos canais abertos de TV com a propaganda eleitoral gratuita. (Além de ter convivido com candidatos à cata de votos e com eleitores em busca de uma boquinha – desde um emprego temporário até uma merreca qualquer em troca do voto).
Urnas refletem o que se vê e o que se ouve
Não tenho a menor dúvida de que o resultado das urnas do 6 de outubro é o reflexo fiel do que se vê e se escuta Brasil afora. Embora precise reconhecer que é triste assistir à falta de preparo e de cultura política da esmagadora maioria – para não dizer a quase totalidade – dos homens, mulheres e gays e outros bichos que pleiteiam cargos eletivos em nossos poderes executivos e legislativos.
O pior é saber que foi assim nas disputas pelas prefeituras e câmaras de vereadores e assim será na campanha de 2026, quando estarão em jogo as cadeiras nas assembleias legislativas, Câmara dos Deputados, Senado Federal, governos estaduais e presidência da República. O analfabetismo político continuará imperando. O discurso raso não se alterará. A demagogia seguirá permeando, indistintamente, da esquerda à direita. A retrógrada pauta de costumes predominará. E o Brasil andará para trás.
Vitória acachapante ou derrota honrosa?
Ao retornar para casa, e diante do resultado das eleições municipais de 2024, percebi que havia testemunhado um momento importante da história política do Brasil. O crescimento vertiginoso dos partidos de direita e centro-direita despertou a atenção de estudiosos e tornou-se pauta obrigatória de todos os meios de comunicação, mesmo em Brasília, onde não elegemos prefeitos e vereadores.
É interessante ouvir teses de cientistas políticos, especialistas e pesquisadores que se baseiam nos números das urnas e nos perfis dos eleitos. Chegam a conclusões óbvias, ou nem tanto, e apontam soluções que não passam pelo mais necessário: a educação do povo.
Chama a atenção, ainda, a urgência dos caciques políticos em “puxar a brasa” para a própria sardinha. A direita comemora a “vitória acachapante”, enquanto a esquerda tenta amenizar a “derrota honrosa”, procurando vieses para demonstrar que, ao contrário do que dizem os números, até obteve progressos em relação ao pleito anterior, de 2020.
Ou seja, eles sempre ganham. Quem perde é o País.
Propaganda gratuita e vídeos sem conteúdo
A vala comum de todo esse lixo são os olhos e ouvidos dos eleitores. Esse conteúdo do nada com coisa nenhuma acaba desaguando na propaganda gratuita (gratuita para os partidos, porque o contribuinte paga muito caro por ela, via Fundos Eleitoral e Partidário) no rádio, na TV e nas redes sociais.
Por óbvio, com a mediocridade dos clientes (os políticos e os partidos) e do público-alvo (os eleitores), o nível de exigência da qualidade dos marketings das campanhas também caiu.
Em pequenas e médias cidades, pesquisas quantitativas e qualitativas para definir estratégias são coisas ultrapassadas. O que vale mesmo é produzir infinitos vídeos expondo os candidatos e seus apoiadores ou atacando os adversários, aproveitando a ferramenta do momento: o celular que cada um de nós carrega na palma da mão.
Ah! Não se pode esquecer de guardar boa parte do dinheiro para aplicar em impulsionamento nas redes sociais. O número de visualizações e de curtidas é que define se a campanha está no rumo certo na busca de um eleitor cada vez mais preocupado em garantir uma boquinha na próxima gestão ou simplesmente em não perder o pouco que ainda lhe resta.