Em tempos eleitorais, volta à baila o debate sobre mobilidade urbana e transporte público. Entra governo, sai governo, e as coisas, literalmente, não andam. E o que é pior: desde o governo Arruda, em 2009, a má-gestão administrativa dos governantes que passaram no Buriti fez a cidade perder cerca de R$ 1,2 bilhão que deveriam ser empregados na ampliação do metrô e da implantação do VLT. Esses dois serviços, segundo as previsões iniciais, já deveriam estar em pleno funcionamento.
O Distrito Federal poderia ter hoje outro padrão de qualidade de vida, caso os projetos de mobilidade urbana tivessem sido implantados. Certamente, o título da terceira cidade da América do Sul mais engarrafada não teria sido entregue a Brasília. As pessoas ficariam menos tempo presas no trânsito, ou enlatadas em desconfortáveis ônibus e num metrô insuficiente.
Um estudo acadêmico realizado pelo arquiteto e urbanista Matheus Augusto de Oliveira e Carvalho sobre uma hipotética situação em que Brasília sediaria as Olimpíadas de 2032, demonstra, no capitulo sobre mobilidade urbana, como a Capital Federal poderia ter um padrão Europeu de transporte Público.
É importante salientar que a proposta tem o transporte sobre trilhos como seu carro-chefe, abandonando as tradicionais soluções rodoviaristas. O trabalho parte do que existe de concreto atualmente e o que deveria ser feito nos próximos anos. Na combinação dessa estrutura, o segredo é a integração dos modais (tipos de transporte), permitindo viagens em ônibus, metrô, VLT e até trem regional com bilhete único, válidos para todo o dia ou para a semana inteira.
Linhas férreas – A proposta do urbanista parte do Entorno com a transformação da extinta linha da RFFSA em um Trem Regional. Essa ideia não é nova. Há muito se cogita essa adaptação entre Luziânia (GO) até a antiga Rodoferroviária. Mas ele inova ao propor que a linha se amplie até Formosa, do lado Norte do DF.
Assim, dois dos principais corredores de passageiros para o Plano Piloto seriam atendidos por via férrea. Além disso, moradores de Planaltina, Sobradinho, Fercal e condomínios seriam dotados de um metrô de superfície. O mesmo aconteceria do lado Sul, para quem mora em Santa Maria, Gama, Park Way, Núcleo Bandeirante e Guará.
O projeto retoma o denominado Expresso Pequi, ligando Brasília a Goiânia e atendendo localidades como Águas Lindas, Santo Antônio do Descoberto, Abadiânia, Alexânia e Anápolis. Um novo corredor de desenvolvimento se formaria, diminuindo a pressão sobre a Capital Federal.
Metro e VLT – O estudo reforça a necessidade de a linha atual do metrô ser concluída, chegando, de um lado, até ao Setor O da Ceilândia e à Expansão de Samambaia, e, de outro, até a extremidade da Asa Norte, onde seria construído um terminal nas imediações da Ponte do Bragheto. Além disso, ele resgata a linha de VLT interligando o Aeroporto ao Terminal Norte, porém passando pela Avenida W-3 Sul e Norte. Esta obra é vista como a redenção da W-3 Sul, que a cada dia fica mais sucateada.
A nova malha de transporte coletivo incluiria, ainda, três outras linhas de VLT. 1) Sol Nascente – Asa Sul, atravessando Taguatinga desde a Avenida Hélio Prates até a Praça do Relógio, de lá atravessaria a cidade pelo Pistão Sul, se dirigindo ao Núcleo Bandeirante, Rodoviária Interestadual e Estação Asa Sul do Metrô. 2) Praça do Relógio – Asa Norte, via Sudoeste, Esplanada dos Ministérios e Noroeste; e 3) Rodoferroviária – Vila Planalto, passando pelo Eixo Monumental. Tudo se integrando na Rodoviária do Plano Piloto, de onde sairia também uma linha especial de BRT para a UnB, via L.2 Norte.
O estudo não traz alternativas para um setor do DF que vem crescendo em demasia, que é o Lago Sul, Jardim Botânico, São Sebastião, Paranoá e Itapuã. Mas a materialização dessas linhas, com certeza traria um desafogo tanto àqueles que se deslocam por meio de transporte coletivo, quanto de carro particular.
Valores – A implantação de todos esses modais – duas linhas de VLT, duas linhas de trens regionais e a expansão de uma linha do BRT em Brasília – sairia por aproximadamente R$ 6,88 bilhões, 34% a menos em relação aos R$ 10,4 bilhões gastos na construção dos 16 quilômetros da Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro para as Olímpiadas de 2016.
A proposta é apontada para daqui a 14 anos. Com um investimento anual de R$ 500 milhões e o compromisso de todos os governantes com o projeto. Seria possível uma Brasília, medalha de Ouro em Mobilidade Urbana.