Orlando Pontes
Democracia é o regime em que prevalece a vontade da maioria. Desde o fim da ditadura militar, na década de 1980, o povo brasileiro passou a exercer, periodicamente, o direito de eleger seus representantes pelo voto direto. Desta forma são escolhidos vereadores e prefeitos, nas eleições municipais, e deputados estaduais (no caso do DF, distritais) e federais, senadores, governadores e presidente da República, nos pleitos nacionais.
Aparentemente desconhecedores deste preceito estabelecido pela Constituição Cidadã de 1988, bolsonaristas radicais passaram a contestar a vitória de Lula, sem base legal, tão logo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proclamou o resultado da disputa, no domingo (30). Em suas manifestações antidemocráticas, bloquearam rodovias e pediam intervenção militar, o que é crime.
Bolsonaro refugiou-se no Palácio da Alvorada sem reconhecer a vitória do adversário. O silêncio do presidente serviu de combustível para seus seguidores mais fanáticos. E mesmo sem apoio dos verdadeiros líderes da categoria, caminhoneiros passaram a bloquear estradas, cumprindo ordens de patrões donos de frotas e ajudados por manifestantes que montavam barricadas com paus e queima de pneus.
Inexplicavelmente, a Polícia Rodoviária Federal e várias polícias militares estaduais não agiram para garantir o direito constitucional de ir e vir de todos os cidadãos brasileiros. Em alguns casos, integrantes das forças de segurança foram flagrados contribuindo para que os atos ilegais se perpetrassem.
Somente na terça-feira (1º), 44 horas após a proclamação da vitória de Lula, o primeiro presidente do Brasil derrotado na tentativa de se reeleger fez um curto pronunciamento (durou exatos 2 minutos). A mensagem não era clara e reiterava “injustiça” do processo eleitoral. Diante da insistência de alguns de seus seguidores em manter estradas bloqueadas em vários pontos do país, Bolsonaro publicou um vídeo na quarta-feira (2) à tarde orientando seus apoiadores a pôr um fim aos atos criminosos e antidemocráticos.
Lula teve sua vitória imediatamente reconhecida pelos presidentes da Câmara e do Senado, Artur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG); do TSE, Alexandre de Morais; e do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber. Também recebeu mensagens e telefonemas de chefes de Estado das principais nações do planeta, como Joe Baden (EUA) e Emmanuel Macron (França). O argentino Alberto Fernández embarcou num voo de Buenos Aires para São Paulo para abraçar o amigo.
Com a volta de Lula ao poder, o povo brasileiro volta a ter esperança em dias melhores. Já no primeiro dia de reunião do governo de transição, a ordem era no sentido de a equipe encontrar soluções para incluir no orçamento de 2023 a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600 e sem interrupção a partir de janeiro, e o reajuste do salário mínimo acima da inflação, baseado no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
A equipe será chefiada, num primeiro momento, pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) com a ajuda da presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffman (PR).