Cem mil pessoas participaram, quarta-feira (14), em Brasília, da sexta Marcha das Margaridas, segundo cálculo dos organizadores. A Polícia Militar não divulgou sua estimativa. O fato é que a cidade parou. O trânsito de um “nó”. Enquanto o início da passeata apontava na rodoviária, os últimos manifestantes ainda saíam do Parque da Cidade, na altura do Palácio do Buriti, ocupando três faixas do Eixo Monumental.
Organizadas em grandes blocos por região do Brasil, e cada região dividida em estados, as delegações caminharam por mais de três horas do Parque da Cidade até o Congresso Nacional. A edição de 2019 da marcha superou todas as anteriores. Este ano, a Marcha das Margaridas contou com a participação da Primeira Marcha das Mulheres Indígenas, ocorrida na terça-feira (13).
A marcha saiu às 7h do Pavilhão do Parque da Cidade. Às 11h ainda havia delegações chegando à Esplanada dos Ministérios. “Mulheres vieram dos quatro cantos do Brasil para defender a pauta das mulheres”, descreveu Vilmara Pereira do Carmo, coordenadora da Secretaria de Mulheres do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF).
O ponto alto da marcha, que homenageia a líder sindical dos trabalhadores rurais Margarida Maria Alves, assassinada em 1983 por defender os direitos humanos, foi no encerramento do trajeto, no Congresso Nacional, onde ocorreram s discursos dos parlamentares, sindicalistas, feministas e militantes dos movimentos sociais brasileiros e estrangeiros.
Este ano, a Marcha das Margaridas foi centrada na defesa da vida e da sobrevivência das mulheres, com foco da pauta econômica, política e em defesa da educação pública e de qualidade em todos os níveis. A manifestação também criticou a produção agrícola com veneno, que está fora de controle no brasil, e defendeu o direito à terra e à água, por causa da privatização das fontes de água mineral.
As trabalhadoras rurais denunciaram o tratamento que o governo Bolsonaro vem dando à agricultura familiar, com corte de recursos financeiros e outros ataques. As margaridas marcaram posição contra a privatização da Previdência, apontando que as mulheres serão as mais prejudicadas, sobretudo as trabalhadoras rurais. Trouxeram também a pauta da sexualidade e a defesa dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. “Neste momento em que estamos perdendo tantos direitos, em que a gente está vendo a aprovação em segundo turno da reforma da Previdência no Senado, as margaridas marcham contra esta reforma”, diz a representante do Sinpro.
A marcha trouxe várias características novas que refletem o que está acontecendo na sociedade brasileira do campo e da cidade. Uma delas é a participação de uma grande quantidade de mulheres jovens que estão assumindo o lugar de suas famílias na agricultura familiar – modelo de agricultura que representa 70% do alimento que chega à mesa dos brasileiros.
Letícia Montandon, também diretora do Sinpro-DF, disse que a marcha deste ano imprimiu um novo significado à luta das mulheres e do movimento sindical. “Foi um momento importantíssimo, porque reuniu mulheres de todo o país e de todas as camadas sociais que, apesar das angústias, aflições e dificuldades, são capazes de se indignar e irem à luta”.
Muitas margaridas viajaram até cinco dias para participar de duas horas de caminhada em Brasília. “Elas mostrarem ao país, ao mundo e, sobretudo, às mulheres, que estamos juntas contra essa profusão de ataques a direitos que este governo tem desferido contra a classe trabalhadora”, concluiu Letícia Montandon.
Histórico
A Marcha das Margaridas ocorre desde 2000, inspirada na luta de Margarida Maria Alves, símbolo da resistência das trabalhadoras do campo por direitos, como, por exemplo, o direito à aposentadoria e à educação pública, gratuita, laica, libertadora, emancipadora e de qualidade socialmente referenciada. Margarida foi assassinada no dia 13 de agosto de 1983 a mando de latifundiários. A Marcha, que acontece nos dias 13 e 14 de agosto, em Brasília, é a maior ação conjunta de mulheres trabalhadoras da América Latina.