Poucos
minutos após a entrevista coletiva no Palácio do Planalto, nesta segunda-feira
(30), de vários integrantes do primeiro escalão do governo em que o ministro da
Saúde, Luiz Henrique Mandetta, voltou orientar a população para a necessidade
de obedecer as medidas restritivas adotadas em cada localidade, o presidente da
República, Jair Bolsonaro, concedeu entrevista por telefone ao programa Alerta
Nacional, da Rede TV, defendendo a flexibilização do isolamento social
recomendado pelo ministro.
“O pânico é uma doença. A histeria é
terrivelmente pior do que o vírus”, declarou o presidente, que considera “os
danos do desemprego piores do que a doença”, referindo-se à pandemia da
covid-19 causada pelo novo coronavírus, que, de acordo com o balanço do
Ministério divulgado no final da tarde, já tem 4.579 casos confirmados no
Brasil, com 150 mortos e 3,5% de letalidade.
Minutos antes, a poucos metros do gabinete
presidencial, de onde Bolsonaro falou à Rede TV, Mandetta havia declarado que
tem dialogado com secretários estaduais e municipais de saúde “dentro do que é
técnico, científico. Mantenham as recomendações dos estados”. Ele também havia
dado declarações que contrariam às recentes condutas do chefe do Executivo,
que, na véspera, percorreu cidades do Distrito Federal para conversar com
populares e defender a reabertura do comércio e a normalização das atividades
econômicas.
O próprio ambiente onde se realizou a coletiva – o Palácio
do Planalto em vez do Ministério da Saúde – constrangeu a equipe de Mandetta,
que atendeu os jornalistas após a saída dos demais ministros. Mas ele encerrou
a entrevista ao ser perguntado sobre o “passeio dominical”, reduzindo de 8 para
5 o total de perguntas previstas para serem feitas pela imprensa.
Questionado se poderia acabar perdendo o cargo pela
divergência de posicionamentos, Mandetta foi atravessado pelo chefe da Casa Civil,
Braga Netto: “Não existe essa ideia de demissão. Isso está fora de cogitação no
momento”.
Mas Mandetta acrescentou: “Em política, quando a
gente fala não existe, a pessoa fala existe”. Para o ministro, as diferenças de
opinião são normais em se tratando de uma crise sem precedentes. “É claro que
existem situações em que você aponta um caminho e pode ter dificuldades. O
importante é que o espírito de todos é de tentar ajudar. O que a gente tem
procurado é uma unicidade e hoje esse formato responde”, completou, referindo-se
à mudança de estrutura das coletivas diárias. A partir de agora, os
boletins diários com as atualizações de casos e ações serão repassados conjuntamente
com as demais pastas, no Planalto, e não mais na sede do Ministério da Saúde.
“Temos dois problemas: O malefício do vírus e o do desemprego.
Neste, as primeiras vítimas são os informais. E o desespero já bate na porta
deles. São 38 milhões de pessoas. Pelo coronavírus, de cada 500 pode-se perder
uma vida. Se não houver afrouxamento das regras, morrerão muito mais com a
fome, a miséria, a irritação e a violência”, disse Bolsonaro, reforçando que a
letalidade da covid-19 é maior para pessoas acima de 40 anos. Ele comemorou a
aprovação, pelo Senado, da ajuda de R$ 600 pelos próximos 3 meses para 25
milhões de pessoas. “Isto terá um impacto de R$ 15 bilhões nas contas do
governo”, contabilizou.