Os livros já poderão ser emprestados a partir de quarta-feira (29). Foto: Andre Borges/Agência Brasília
Na última semana do Mês da Consciência Negra, o acervo de escritores negros na Biblioteca Nacional de Brasília ganhará uma autenticação especial. O Selo Maria Firmina dos Reis, criado pela Secretaria de Cultura do DF, será lançado nesta terça-feira (28), com o objetivo de valorizar a produção literária afro.
Em homenagem ao centenário de morte da primeira romancista brasileira, que dá nome ao selo, a secretaria também investe na ampliação do acervo da biblioteca. O local receberá mais de 100 livros de autores negros. As obras, fruto de doações, estarão disponíveis para empréstimo a partir de quarta-feira (29).
Produção feminina
Um dos destaques da nova coleção é a produção feminina negra na literatura. Entre os títulos que comporão o acervo está o primeiro livro publicado por uma mulher negra no Brasil, em 1859. Escrito em um contexto de segregação social e racial, Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, é um romance abolicionista que apresenta forte imersão em elementos da cultura africana e inova ao retratar a escravidão do ponto de vista dos próprios escravos.
Outro livro raro que estará disponível nesta semana é o Água Funda, primeiro romance de Ruth Guimarães. A edição que chega à biblioteca é datada de 1949. Ruth foi a primeira autora negra a receber reconhecimento nacional. Água Funda mostra o universo caipira do Vale do Paraíba, remontando aos tempos da escravidão.
Raridade
Além das raridades, toda a obra da poetisa mineira Conceição Evaristo compõe a coleção do Selo Maria Firmina dos Reis. Uma das principais expoentes da literatura brasileira atual, Conceição ganhou também projeção internacional, com livros traduzidos em outros idiomas.
A escritora produz literatura com profundas reflexões acerca das questões de raça e gênero. Lançamento do selo terá sarau poético. No evento de lançamento do selo e de entrega da nova coleção, a partir das 19 horas de terça, haverá sarau poético com as escritoras Conceição Evaristo, Meimei Bastos, Pietra Sousa e Tatiana Nascimento.
Fácil acesso
Para Tatiana, a identificação especial vai ajudar a dar visibilidade à literatura afro-brasileira. “Ainda mais em uma biblioteca situada no centro de Brasília, de fácil acesso para todos.” Fundadora da Padê Editorial, editora de livros artesanais dedicada à publicação de autoras negras de fora dos grandes circuitos literários, Tatiana também promove oficinas de poesia escrita e falada.
A subsecretária de Cidadania e Diversidade Cultural, da Secretaria de Cultura, Jaqueline Fernandes, acredita que o catálogo representa um grande passo do governo de Brasília para o reconhecimento da produção afro-brasileira, ainda pouco explorada. “O selo consiste na visibilidade das obras de escritoras negras que, infelizmente, a maior parte das pessoas não conhece.”
Biografia
Nascida em São Luís (MA) em 11 de outubro de 1825, Maria Firmina dos Reis foi, aos 22 anos, a primeira professora concursada do estado. Com temática abolicionista, seu livro Úrsula revolucionou a literatura. Em 1887, a autora publicou o conto A escrava.
Também no fim do século 19, fundou a primeira escola mista e gratuita no Maranhão, o que possibilitou que crianças, brancas ou negras, tivessem as mesmas oportunidades de acesso à educação. Atuou como folclorista, ao recolher e preservar textos de literatura oral, e como compositora — é dela o Hino à liberdade dos escravos. Faleceu aos 92 anos, em 1917.
Empréstimo de livros
O empréstimo de livros na Biblioteca Nacional de Brasília é feito mediante cadastro prévio. O local funciona de segunda a sexta, das 8 às 20 horas, e aos sábados e domingos, das 8 às 14 horas.
Lançamento do Selo Maria Firmina dos Reis
28 de novembro (terça-feira)
19 horas
Biblioteca Nacional de Brasília
Informações: (61) 3325-6267