Preso pela Operação Lava-Jato em fevereiro de 2016 e solto seis meses depois sob fiança e mediante acordo de delação premiada com o STF, o publicitário João Santana concedeu, segunda-feira (26), ao programa Roda Viva, da TV Cultura, sua primeira entrevista após ser solto. O marqueteiro dos ex-presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff se disse abandonado pelos petistas. “Nunca mais falei com eles”, afirmou.
Durante a entrevista, usando tornozeleira eletrônica, o publicitário admitiu o uso de caixa dois nas campanhas eleitorais e confirmou que Lula e Dilma tinham ciência de pagamentos oficiais e paralelos feitos como contraprestação aos serviços prestados. “O caixa dois não foi apenas uma ‘unha encravada’ no sistema político brasileiro; foi sempre a alma do sistema eleitoral e era uma coisa geral. E poucos foram punidos”, afirmou.
Segundo Santana, “fazer a delação foi a pior experiência da minha vida. É uma descida aos infernos. Você enfrenta conflitos éticos, afetivos e morais de toda natureza. Quando você confronta isso ao seu bem maior, que é a sua vida, você revê e isso fica pequeno”, afirmou. “Por que eu vou ser solidário com quem não está sendo solidário comigo?”, completou.
Ele revelou, ainda, que enfrentou um câncer no estômago logo após fazer a delação e passou por uma cirurgia no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. “Vou fazer uma revisão amanhã (terça-feira)”, disse. “Essa queda da fama para a infâmia é um buraco tão profundo, nem sei se tem fundo. (…) Mas, por outro lado, é muito rico em descobertas e redescobertas”.