Ex-deputado distrital (1991/98) – presidiu a Câmara Legislativa no biênio 1995/96 – e ex-deputado federal por três legislaturas, Geraldo Magela (PT) quer voltar à cena política e, 2022 como candidato a governador. Ele tentou chegar ao Buriti pela primeira vez em 2002, mas perdeu no segundo turno para Joaquim Roriz. Em 2014 concorreu ao Senado e também não se elegeu.
Nesta entrevista ao Brasília Capital, Magela aponta os erros da gestão Ibaneis Rocha (MDB), principalmente na área da Saúde – “o Iges-DF é um desastre”. Ele fala das articulações da oposição para voltar ao Buriti em 2023 e da pressão da militância petista para ter candidato próprio ao GDF para montar o palanque presidencial de Lula no Distrito Federal.
O momento político em Brasília mostra muitas incertezas. Mas existe uma certeza: o PT terá candidato. Será você? – Nós ainda não temos esta certeza. Estamos num processo interno de debates e temos a convicção de que a militância do PT quer ter uma candidatura petista para ajudar em uma campanha do Lula. Mas ainda estamos dialogando internamente e com os outros partidos para tentar formar uma aliança, que pode acontecer tanto no primeiro quanto no segundo turno. Eu me coloquei à disposição do PT. A decisão será no final de outubro.
Para quem conhece o PT, quando a militância quer… – O PT teve candidatura ao governo em todas as eleições no DF. É natural que tendo uma militância aguerrida, apaixonada, disposta a lutar, como é a militância do PT, que é esta militância queira ter uma candidatura própria. Se a decisão fosse hoje, eu diria que aprovaríamos a candidatura própria. A militância quer formar um palanque forte um palanque leal ao Lula aqui. E isso facilita tendo uma candidatura petista.
Além disso, tem o aspecto de que muitos possíveis aliados não querem se juntar ao PT no primeiro turno… – Eu tenho certeza de que o PT hoje é o melhor aliado para qualquer partido, seja para receber apoio ou para dar apoio. O PT tem uma candidatura presidencial muito forte e uma militância que nenhum outro partido tem no DF. Então, ser aliado ao PT é muito bom. Agora, eu reconheço que nós precisamos fazer um enfrentamento contra esta rejeição que existe aqui ao PT. E, na minha avaliação, a melhor forma de fazer isso é ter uma candidatura própria.
Aliados em 2022
Quem seriam esses possíveis aliados do PT no primeiro ou no segudo turno? – Estamos dialogando com todos os partidos. Eu mesmo já estive com várias lideranças de partidos. Estamos tentando formar uma frente para a eleição presidencial com o PSB, PSol e com o PC do B, e tem a possibilidade de ter o PROS e o PSD. Sabemos que o PDT tem uma candidatura a Presidente e que neste, momento, que a Rede está próxima desta candidatura do Ciro Gomes. Aqui no DF nós estamos abrindo diálogo. Temos que deixar pontes construídas para estarmos juntos ou no primeiro ou no segundo turno, porque é natural que a esquerda e a centro esquerda estejam juntas no processo político.
Caso o PT venha a ter candidato próprio e este seja o Geraldo Magela, o que tem a propor para o DF vinte anos depois de ter disputado o Buriti pela primeira vez? – O candidato do PT, seja quem for, tem que ter algumas iniciativas imediatas. A primeira delas é desmontar o IGES-DF, acabar com essa farsa, esse desastre que existe hoje na saúde pública. E é preciso fazer um projeto de pensar um desenvolvimento econômico sustentável para o DF, que dê a oportunidade para as pessoas terem emprego, terem salário e terem segurança. Hoje, infelizmente, estamos vendo um desastre na saúde pública, um desastre na gestão da educação, um desastre na gestão da segurança pública. Então é preciso fazer um programa de governo que mostre para a população que é possível fazer muito melhor do que está sendo feito. E o PT já fez isso. Na Saúde nós já fizemos muito melhor do que está sendo feito.
CPI do Iges
A Câmara Legislativa está debatendo a possibilidade de instalar uma CPI para investigar irregularidades no Iges-DF. Como ex-presidente daquela Casa, você acha que há espaço e clima para essa CPI? – Se os deputados e as deputadas distritais tiverem compromisso com a população, especialmente de dar a ela a oportunidade de ter uma saúde pública de boa qualidade, têm que instalar a CPI para ver o que tem de errado na gestão, o que houve de corrupção, e pensar num projeto que possa substituir esse desastre que é a saúde pública hoje. Mas, pelo controle que o governo tem sobre a maioria dos parlamentares, eu acredito que só haverá CPI se houver pressão da população.
O PT pretende mobilizar a população para fazer essa pressão? – O PT já está fazendo isso. Os nossos deputados Arlete Sampaio e Chico Vigilante estão trabalhando firmemente pela instalação da CPI. E nós temos um compromisso, junto com os partidos de esquerda (PDT, PSOL e Rede) de buscar a instalação dessa CPI. Vamos fazer pressão para que essa CPI exista, porque nós temos hoje no DF a pior gestão de toda a história na Saúde, embora tenhamos excelentes profissionais na área, mas a estrutura e a gestão são horríveis. Então, não basta apenas apurar as irregularidades, a corrupção. É preciso apurar a ausência, a incompetência e a irresponsabilidade na gestão da Saúde do DF.
O PT voltaria com programas como o Saúde em Casa e o Saúde da Família? – Sem dúvida. Eu acho que é obrigação de qualquer candidato a governador fazer um compromisso de executar a volta do Saúde de Casa, das Carretas da Saúde, e ter uma gestão que seja muito séria e competente, com a participação da sociedade. É muito importante a Saúde Pública ter o controle social da população, inclusive para ajudar a administrar.
Servidores
Como capital da República, Brasília é, naturalmente, a cidade dos servidores públicos. O governo federal congelou os salários da categoria. Se eleito, o PT quebraria esse ciclo, retomando a valorização do servidor? – O servidor público tem que ser tratado como um bem essencial para a população. Ele é um servidor da população. Por isso precisa ser valorizado, ter carreiras profissionalizadas, bons salários e ser respeitados. É claro que tendo um Presidente da República como Lula e um governador do PT aqui, vai facilitar muito. Eu tenho essa esperança. E aí nós vamos voltar a ter uma política para o servidor público para que este servidor volte a prestar um excelente serviço para a população.
Interstício
O atual governador anunciou algumas medidas que beneficiam a área de Segurança, diminuindo o interstício da PM e do Bombeiro e novos concursos para a Polícia Civil. É suficiente isso? – Isso é fundamental. É preciso prestigiar os profissionais da área da Segurança. Temos aqui as melhores polícias do Brasil. A Civil, a PM e o Corpo de Bombeiros são os melhores do País e precisam ser reconhecidos e valorizados. Mas isso é insuficiente. Se você for às ruas hoje, a população está dizendo que tem a sensação de insegurança em casa e nas ruas. Por isso é preciso adotar uma política de segurança pública comunitária, com a polícia perto da população. A segurança pública ela começa na vizinhança. Isso certamente nós vamos debater daqui até o ano que vem. O PT vai propor um projeto de segurança pública diferente do que existe hoje.
A propaganda oficial do GDF fala que o governo retomou e concluiu várias obras que estavam em andamento na gestão passada e lançou um grande pacote de novas obras. Você tem fiscalizado isso. Essas obras realmente estão saindo do papel, estão dentro do prazo e sem irregularidades? – Não estou fiscalizando ainda. O PT tem acompanhado, naturalmente, por meio dos seus parlamentares na Câmara Legislativa. Mas é preciso a gente falar uma coisa: tendo dinheiro, todo governo faz obras. O Agnelo fez obras, o Rollemberg fez obras, Ibaneis pode fazer obras, porque se houver recurso. Agora, é importante a gente ter claro que as obras têm que ter continuidade. Por exemplo: Vicente Pires, está tendo as suas obras de urbanização concluídas. Mas isso começou lá no governo do PT do Lula, com o Arruda aqui no Buriti. Eu era deputado federal e ajudei a trazer recursos. A Saída Norte começou com o Agnelo e só concluiu com Ibaneis. O PT, quando tiver um candidato ao governo, vai assumir o compromisso de dar sequência a todas as obras que foram iniciadas, de fazer obras que sejam necessárias para a população e vai fazer isso com muita seriedade, com muita honestidade, como fizemos no programa habitacional que eu coordenei. Mas nós precisamos ter um governo que cuide das pessoas, que garanta saúde, segurança e educação de boa qualidade.
Privatização
Em 2018, Ibaneis prometeu não privatizar empresas públicas. Mas vendeu a CEB. Se o PT chegar ao Buriti tentará reverter esse processo? – O político tem que ter palavra. Infelizmente, quando um candidato a governador na campanha faz compromissos, e depois de eleito não honra, ele está – além de se desdizer, de se desmentir – fazendo com que a população não acredite nos políticos. É muito importante que o governador tenha palavras.Infelizmente, o atual governador, na campanha dizia que não ia privatizar e privatizou. Os serviços de energia elétrica que a CEB prestava precisavam melhorar, mas não vão melhorar com a privatização. Não há como uma empresa que tem como finalidade o lucro, prestar um bom serviço e cobrar um preço justo. Os preços da energia, das contas da energia vão aumentar e o serviço vai piorar. É claro que um governo do PT vai ter que analisar se é possível fazer a reestatização. Mas a privatização não vai dar certo, não deu certo em nenhum estado do país. Não vai dar certo aqui. A reestatização poderá ser feita quando estivermos no governo e analisarmos a situação real das finanças e da prestação de serviços que a atual empresa privatizada está fazendo.
Também estão na mira de privatizações do GDF o metrô e a Caesb. O que acha de privatizar esses dois serviços? – Não vai melhorar em absolutamente nada e vai aumentar o custo. Nós sabemos que as privatizações que vinham sendo feitas nos governos antes do PT e agora que o Ibaneis está fazendo esse trabalho de privatização não vai melhorar para a população. Está errado e vai aumentar as contas. O que precisa é gestão. Eu tenho uma opinião que, quando o governo quer privatizar, ele tem dois objetivos: dar lucro para empresários, que normalmente são amigos de quem governa, ou mostrar que não é competente para administrar, não tem capacidade para fazer gestão. Se tiver capacidade para fazer gestão, você tem condições de prestar um bom serviço com preços justos. É inadimissível uma greve no metrô de quatro meses em que o governo não tenha capacidade de resolver. Ou não é um governo democrático ou não é um governo competente.
Pandemia
A pandemia trouxe um cenário de desemprego e desalento. Aumentou muito o número de pedintes nas ruas e nos semáforos. Muita gente dormindo debaixo de marquises. O que o governo poderia fazer para diminuir esse sofrimento das pessoas mais carentes? – Nós precisamos de um governo que pense nas pessoas. Governo que só pensa em obras, pode fazer muitas obras, mas as pessoas não ficam felizes. Precisamos de um governo que pense em trazer felicidade para as pessoas. Oportunidades de emprego, acesso à saúde, as pessoas viverem seguras e terem a oportunidade de ter lazer, diversão e esporte nas suas cidades e, principalmente, das pessoas terem esperança. Eu tenho andado pouco porque me vacinei há pouco tempo, mas eu tenho recebido muitas mensagens das pessoas desalentadas, sem esperança. E acho que é, infelizmente, a cara do atual governo. Este é o governo da desesperança, do desalento. Por isso, ao pensar para 2022, o PT vai ter que pensar em como resgatar a esperança, como trazer de novo a felicidade e a alegria para esse povo. Nós não precisamos ter pessoas vivendo nas ruas. Podemos ter uma política de acolhimento adequado para as pessoas que estão nas ruas e ao mesmo tempo ter uma política muito dura, muito severa de combate ao tráfico de drogas. Precisamos criar a esperança para as pessoas do Distrito Federal. Hoje não é isso que está acontecendo.
Educação
Fale um pouco da questão da educação. Eu acredito que a educação precisa ser libertadora, inclusiva e democrática. Nós precisamos pensar num projeto de educação onde as escolas sejam locais de transmissão de conhecimento, mas também sejam locais de cidadania, de construção de novos cidadãos e cidadãs. Nós precisamos pensar que a escola precisa acolher os estudantes, mas precisa também estar aberta para a comunidade. Eu tive um projeto que, quando o PT voltar ao governo, eu quero que possamos executar, que é abrir as escolas nos finais de semana para que recebam a comunidade para a prática de esporte e lazer, cultura e convivência. Também precisamos fazer com que as escolas recebam as pessoas mais velhas para conviverem com os jovens, com as nossas crianças. Brasília vai ser um dos locais onde mais teremos idosos nos próximos anos, e nós precisamos ter uma política para acolher esses idosos. O PT vai fazer um programa de governo que dialogado com a população, com outros partidos, com a nossa militância, e vai apresentar um excelente projejto que traga de volta a felicidade do Brasil.
E nessa escola ideal, como será feita a valorização do professor? – Eu disse no início da entrevista que todo servidor público tem que ser valorizado, respeitado, especialmente os trabalhadores da educação – professores, administrativos etc. Porque, como eu disse, educação não é apenas transmissão de conhecimento, é sobretudo formação de cidadãos e cidadãs. E nós precisamos pensar em ter um projeto para valorizar os profissionais da educação, com bons salários, com respeito, gestão democrática, formação continuada. E certamente, para que eles sintam que o seu projeto de vida, que é educar, está sendo reconhecido pelo governo e pela população, isso dependerá de ter bons salários.