Em protesto, PHS lança candidatura do famoso Macaco Tião em 12 estados
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Em 1988, uma brincadeira criada pela revista Casseta Popular em defesa do voto nulo, culminou com o lançamento da candidatura não oficial do Macaco Tião para a Prefeitura do Rio de Janeiro. O personagem recebeu 400 mil votos, nominais, nas cédulas de papel usadas à época, e foi o terceiro mais votado dentre os doze candidatos ao cargo.
Com 1,52m de altura e 70 kg, o Macaco Tião tornou-se, então, personagem central do mais emblemático caso de protesto nas urnas brasileiras. Em memória ao lendário chimpanzé carioca, o PHS lançou este ano doze candidatos à Câmara Federal usando o nome e a imagem de Tião. Os humanistas têm representantes no DF, em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e em mais oito estados. Mas, desta vez, os “macacos” têm número, legenda e estão prontos para serem eleitos.
O movimento começou durante os protestos de junho de 2013, proposto pelo publicitário brasiliense Tiago Adaldo, 27 anos. “Nenhum deputado tinha coragem de chegar no povo que estava em frente ao Congresso”, explica. A ideia é colocar cidadãos comuns no poder e continuar nas urnas os protestos que começaram no ano passado. “Vimos a real necessidade de ocupar o poder de verdade e nos organizamos politicamente para isso”.
Outra inspiração, além do Macaco Tião, é o Movimento 5 Estrelas, que nasceu na Itália em 2009 e foi apadrinhado pelo comediante Beppe Grillo. Nas eleições de 2013 para o Parlamento Italiano, o movimento obteve 26% da Câmara dos Deputados e 24% do Senado. Lá, cidadãos comuns foram colocados no poder usando apenas a internet. E é assim que tem sido tocada toda a estratégia de marketing dos doze Macacos Tião espalhados pelo Brasil. Nada de panfletos, apenas redes sociais e Whats App.
DF
No Distrito Federal, quem carrega a bandeira e o nome do Macaco Tião é a professora Rejane Soares, de 42 anos. Quando conheceu o projeto, achou que fosse uma boa forma de protestar e resolveu se filiar ao partido. “Concordei com a proposta de tentar me eleger sem gastar nada. É uma forma de tentar mudar o sistema vigente”, argumenta.
A candidata é professora do Ensino de Jovens e Adultos, cristã e pretende levantar na Câmara dos Deputados a bandeira da educação e das outras reivindicações das manifestações, que não foram só pelos vinte centavos.
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Reforma política
O voto de protesto, porém, esbarra na legislação brasileira, que obriga que os candidatos sejam filiados a partidos e que os votos sejam computados pela legenda, podendo fazer com que os eleitores que votarem no Macaco Tião acabem elegendo políticos com ideais diferentes dos propostos pelo movimento. “Infelizmente, nós não temos autonomia para montarmos uma chapa, escolhermos os partidos da coligação e os candidatos”, lamenta Tiago.
Em Brasília, os candidatos favoritos da coligação para vencer a corrida à Câmara dos Deputados são Roney Nemer (PMDB) e Alírio Neto (PEN). Trata-se de dois políticos de carreira que tentam saltar da Câmara Legislativa para a Federal. “Queremos atingir 50 mil votos e, com isto, trocar um dos velhos políticos pelo Macaco Tião”, afirma com otimismo o publicitário, mirando a vaga de Roney.
Não é bem assim…
Para a professora de Ciências Políticas do Uniceub, Maria de Fátima Guimarães, o protesto é válido, mas o tiro pode sair pela culatra. “Quando os votos eram escritos em papel havia mais oportunidades de fazer deboches como este. Hoje, dificilmente a foto de um macaco vai para a urna eletrônica. Se o número for registrado é para um candidato real”, afirma a doutora.
“Popularizar o Legislativo pode ser uma saída para quem desacredita da política e dos políticos que atualmente ocupam os cargos que lá estão, mas ainda acredito que todo candidato deve ter propostas. Voto de protesto é, historicamente, o voto nulo”, conclui.