No DF, a gente usa a expressão “tem cabeça de burro enterrada” para falar de pontos comerciais onde nenhuma iniciativa vai para frente. Esta semana, a jornalista Denise Rothemburg, do Correio Braziliense, me perguntou se tem cabeça de burro na Saúde do DF. A resposta é não. A saúde do DF tem jeito, mas para dar certo tem que ter vontade política, conhecimento do sistema, competência na gestão e sentimento de urgência.
Expliquei que a demanda sempre será maior do que a capacidade de oferta de serviços. Mas, mesmo com as dificuldades, nunca se deixou de prestar assistência como agora. Aliás, desde o governo Rollemberg, que antecedeu o atual. E a marca que este governo deixa na saúde é a bandeira vermelha: emergências fechadas e UBSs sem capacidade para dar a assistência que a população pede e precisa.
O governador pretendia fugir da responsabilidade de garantir a oferta de assistência à saúde à população, que é um direito constitucional de cada cidadão. Chegou a elaborar um projeto de lei para privatizar todo o sistema. Impedido da privatização generalizada, não demonstrou grande esforço para garantir aos cidadãos o acesso à assistência em saúde. Foi assim desde o primeiro dia da atual gestão até agora, quando finalmente nomeou uma médica para a função de secretária da Saúde.
No mais, no atual governo, o noticiário sobre a saúde do DF passou para as páginas policiais: fosse por um secretário preso acusado de corrupção, por mais um escândalo no IGESDF ou porque os profissionais de saúde viraram alvo de agressões diárias de cidadãos desesperados por não conseguir atendimento nem nas emergências nem nas unidades básicas/postos de saúde.
O que cobramos, desde antes da posse do atual governo, é uma política para recuperação e ampliação da Estratégia Saúde da Família, com resolutividade na assistência e ênfase em uma atuação preventiva, para termos uma população mais saudável e menos demanda nas filas das emergências e das cirurgias. Cobramos a regularização e o controle adequado dos estoques de medicamentos e insumos. Mas o que vimos quando estourou a pandemia foi colegas tirando dinheiro do próprio bolso para comprar equipamentos de proteção, para se proteger da contaminação pelo coronavírus e poder continuar prestando assistência à população.
Pedimos mais contratações, para fazer as filas por consultas e cirurgias andarem, e o que vemos é um contingente imenso de profissionais de saúde exaustos e adoecendo por sobrecarga de serviço.
Ao virar as costas para a obrigação de garantir o acesso da população do DF à saúde, o GDF, pior do que a covid, deixa sequelas que precisarão de tratamento de longo prazo. Ao governo que assumir caberá a responsabilidade de consertar os erros e recolocar a política de saúde no caminho certo.
O primeiro passo é reconhecer a obrigação constitucional e encarar de frente o desafio de construir uma política de saúde efetiva e adotar práticas de gestão eficientes e transparentes. No mais, é preciso completar as equipes de trabalho e dar a elas condições e meios para prestar a assistência de que nossos pacientes precisam.