Ana Luisa Araujo, Orlando Pontes e Tácido Rodrigues
Em entrevista ao Brasília Capital na manhã de quarta-feira (2), o deputado Chico Vigilante (PT) desmentiu Rodrigo Rollemberg (PSB). Na semana anterior, o ex-governador declarou que o presidente Lula havia confessado apoio à candidatura de seu correligionário Ricardo Cappelli ao GDF em 2026. “Lula não disse isso a ninguém. Não falou para mim e creio que não falou também para o Rollemberg. Acho muito ruim as pessoas ficarem inventando as coisas, saindo na frente para achar que é o tal”, disparou o distrital. Ele avalia, ainda, que a vice-governadora Celina Leão (PP) não é a adversária mais difícil de ser derrotada pela esquerda na corrida ao Buriti. “Os secretários Gustavo Rocha e José Humberto [ambos do MDB] são candidatos muito mais difíceis para a gente bater numa eleição”. Vigilante aposta na vitória de Edinho Silva na disputa pela presidência nacional do PT e não descarta concorrer ao comando da legenda no DF.
O PT terá candidato próprio a governador do DF em 2026? – Eu estou lutando para que a gente tenha uma frente ampla aqui no DF. A meu ver, todos os partidos que compõem o apoio ao presidente Lula cabem nessa frente. Quem quiser vir conosco, o PT vai estar disposto a discutir. Depois, a gente chega a um candidato. Essa história de lançar nomes sem discussão ampla com a sociedade não é correta.
Em entrevista ao Brasília Capital, o ex-governador Rodrigo Rollemberg cravou que Ricardo Cappelli é o nome preferido de Lula em Brasília. O sr. confirma isso? – O presidente Lula não disse isso a ninguém. Não falou para mim e creio que não falou também para o Rollemberg. Acho muito ruim as pessoas ficarem inventando as coisas, saindo na frente para achar que é o tal. Isso não ajuda em nada. Temos o maior respeito pelo Rollemberg, mas o governo dele é extremamente criticado aqui no DF. Portanto, acho que ele prestaria um serviço extraordinário à democracia e ao nosso povo se tivesse um pouco mais de humildade e viesse para um fórum democrático para discutir as coisas.
O senhor acha que a frente ampla é a única maneira de vencer a direita – no caso, a vice-governadora Celina Leão? – Primeiro, eu acho que tem muita água para passar por baixo da ponte. Não sei se a Celina é realmente a candidata do Ibaneis. Acho que ele tem outros nomes. Ouço por aí, por exemplo, o nome do Gustavo Rocha, secretário da Casa Civil, que não tem rejeição e conta com o carinho de muita gente. Outro que tem todo o apoio do empresariado do DF é o José Humberto, secretário de Governo. Ele é amigo de todo mundo, se filiou agora ao MDB e diz que vai concorrer a deputado federal. Eu tenho minhas dúvidas. Lá na frente vamos ver a que ele veio. São candidatos muito mais difíceis para a gente bater numa eleição.
O PT indicou Erika Kokay para concorrer ao Senado. Possivelmente, ela terá como adversários o governador Ibaneis e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Erika tem chance? – Claro. Na hora que a campanha começar para valer, a Erika estará forte. Eu sempre digo que ela é a mulher das causas impossíveis. Conhece cada buraquinho do DF e vai ganhar a eleição para senadora. Não tenho dúvida. E ainda tem a Leila do Vôlei. As duas vão estar juntas no Senado. São mulheres excepcionais.
Ibaneis ficaria sem mandato? – Para ele, não tem importância ter mandato ou não. Até porque o grande sonho dele é assumir o Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Ele já me falou uma vez que, quando terminar a missão política aqui, vai morar em Portugal. Ibaneis é um cara extremamente inteligente. Uma pessoa que eu tenho divergências, mas respeito. E tem juízo.
Em julho, o PT escolherá seu novo presidente nacional e o sr. já declarou apoio ao ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva. O caminho é este mesmo? – Edinho será o presidente do PT porque é o candidato do Lula. Está tendo muitas discussões internas. Mas o Edinho jamais se lançaria se não tivesse o apoio decisivo do presidente. O Washington Quaquá, prefeito de Maricá (RJ), e outras pessoas estão falando coisas. Mas na hora que o Lula bater a mão na mesa, acaba essa discussão.
E o senhor, será candidato a presidente do PT-DF? – Nós estamos discutindo a possibilidade. Eu pretendo que a gente consiga fazer uma chapa única. Está na hora de parar com essa “brigaiada”. Espero que possamos chegar em um consenso. E aí, se o meu nome for fator de unidade, tudo bem. Se não for, vamos encontrar outro nome. O mais importante é fortalecer o partido. Por falar nisso, vamos filiar aos nossos quadros a professora Márcia Abraão, que foi reitora da UnB. Estamos apenas acertando a data.
E ela será candidata a quê? – Pode ser até a governadora.
Lula vai ser mesmo concorrer à reeleição? – Sem dúvida. É o nosso candidato. As pesquisas que estão colocadas aí não refletem a realidade. Você pega tudo que sai na imprensa, que a inflação não para de subir, não sei o quê. Mas a realidade é que o preço do arroz já caiu para R$ 17. Café, carne e ovo, seguem essa lógica. Ademais, estamos em pleno emprego no DF. As coisas estão se ajustando. Mas, infelizmente, o que aparece é esse discurso maligno da extrema direita que só fala de anistia para terroristas.
O GDF anunciou um pacote de gratuidades no transporte público, Zoológico e Jardim Botânico. Reconhece como uma boa medida? – O Ibaneis é um cara engraçado. Eu fui em Goiânia conhecer um sistema chamado Cartão Família, onde até quatro pessoas da mesma família podem usar o mesmo bilhete aos domingos e feriados, de graça. Apresentei um projeto, aprovado por unanimidade na Câmara Legislativa, que criava o Cartão Família aqui no DF para até seis pessoas. O governador vetou. Nem me ligou para me dizer que tinha achado boa a ideia. Agora implantou o Vai de Graça e nem disse que a ideia era minha.
Qual seu entendimento sobre as negociações do BRB para comprar o Banco Master? – Eu acho que é uma grande negociata. O Banco Master foi criado há mais de 30 anos e tem uma história “cabulosa”. Inicialmente, era uma construtora. O pai do cara que hoje é o CEO do Master comprou como se fosse um brinquedo. Dizem que ele está extremamente endividado. Eu ouvi de uma importante fonte que o Roberto Campos Neto [ex-presidente do Banco Central] ia intervir no Banco Master no final da gestão dele. Não interviu e deixou para o Gabriel Galípolo. E aí o BTG Pactual, que é um banco que realmente tem lastro e atuação sólida no mercado financeiro, quis comprar o Banco Master por um real. Depois disso, o presidente do BRB oferece R$ 2 bilhões em um negócio que outro banqueiro colocou um real. Tem boi na linha.
A Câmara Legislativa pode intervir de alguma forma? – Nosso entendimento é de que isso deve passar pela apreciação da Câmara para decidirmos se a compra será concluída ou não. Estamos batalhando para que o tema seja discutido na Câmara. Na segunda-feira (7), o Paulo Henrique Costa, presidente do BRB, vai lá se explicar. Espero que ele leve boas justificativas, porque eu não estou convencido desse negócio. Para mim é uma aventura. O BRB é de Brasília. Não do Ibaneis e do Paulo Henrique.
Criticar a situação da saúde, como faz Rollemberg, é o melhor caminho para esquerda voltar ao Buriti? – Acho que não. Eu não defendo isso. O Rollemberg se elegeu governador falando mal da saúde, dizendo que tinha dinheiro e faltava gestão. E pau no Agnelo Queiroz [ex-governador, do PT], que fez uma gestão boa na saúde. O Rollemberg assumiu, criou o Instituto Hospital de Base (IHB), que foi o embrião desse monstrengo que é o Iges (Instituto de Gestão Estratégica de Saúde). Nós, da bancada do PT, e o deputado Wellington Luiz (MDB), atual presidente da CLDF, batemos muito nessa criação do IHB. Aí o Ibaneis passou toda a campanha, no primeiro mandato, repetindo que ‘dinheiro tem, falta gestão’. Venceu as eleições e continua tendo muito dinheiro e faltando gestão. É bom que se diga que tivemos a dra. Lucilene Florêncio à frente da Secretaria de Saúde. Uma mulher de caráter, correta, honesta e que acredita efetivamente no SUS. Entretanto, não deram liberdade para ela trabalhar. Enquanto houver deputados indicando nomes para gestão da saúde, vai dar errado.
O PT não cometeu o mesmo erro ao demitir Nísia Trindade do Ministério da Saúde? Inclusive, ela acusou uma ala do governo Lula de misoginia e fritura pública? – Tem uma diferença muito grande. Foi a grande mídia que a atacou, não o governo. A Nísia é uma pessoa excepcional, técnica. Foi substituída pelo Alexandre Padilha, que é médico, já exerceu o cargo em outra oportunidade e fez um trabalho muito bom. O que é completamente diferente da nossa realidade. O Iges é um monstro que vai acabar com a saúde do DF. Há deputados aí que queriam estender o instituto para todos os hospitais públicos locais. Ainda conseguiram aprovar que as UPAs, inclusive as que vão ser construídas, ficam sob responsabilidade do Iges. Já falei com o próprio Ibaneis que ele poderia repetir o modelo de gestão da Empresa Brasileira de Gestão Hospitalar, do governo federal, que cuida muito bem de 43 hospitais universitários. Uma espécie de Empresa Brasiliense de Gestão Hospitalar seria muito melhor do que o Iges.
O sr. é morador de Ceilândia há quase 50 anos. Em que o seu mandato tem contribuído para melhorar a vida de quem mora na cidade? – Sou representante da Ceilândia e de todo o DF. Cheguei em 1977, quando Ceilândia era uma garotinha de seis anos. Só tinha barraco de madeira e nenhum palmo de asfalto. Para conseguir consulta tinha que ir de madrugada e ficar na fila. Para tirar a identidade era a mesma coisa. A cidade mudou bastante. Fico ‘pau da vida’ quando algumas pessoas dizem que Ceilândia não tem nada a comemorar. Tem e muito. Somos uma cidade, hoje, que não depende das outras pra nada. Temos um comércio pujante, com grandes empresas. Temos campus da Universidade de Brasília (UnB), tem o Instituto Federal, além de duas faculdades privadas. A maior unidade do Sesc no DF fica na Ceilândia e abriga o teatro Newton Rossi. Por muito tempo, se você dissesse que morava lá, não arrumava emprego. Moro na Ceilândia há 44 anos e tenho muito orgulho.
Que presente o senhor daria para Brasília, que está prestes a completar 65 anos? – O presente que eu daria para essa cidade maravilhosa, que acolhe todos tão bem, seria resolver de uma vez por todas os problemas da segurança. Não pode acontecer com Brasília o que está acontecendo com São Paulo, com o Rio de Janeiro, onde o crime organizado tomou conta. Isso é inaceitável aqui. Temos uma das melhores polícias do Brasil. Uma polícia que não é corrupta. Todos temos que estar nessa luta. A gente precisa resolver definitivamente, também, o problema da saúde. Dinheiro tem, falta gestão — deixando claro aqui que não sou candidato a governador, apesar de muita gente querer que eu seja. Educação é a mesma coisa. É duro ser professor. A gente tem que dar condições de trabalho e emprego para a juventude. Por último, temos que cuidar dos nossos idosos. Precisamos de mais centros de convivência para eles, porque a solidão da velhice é algo massacrante.