O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva concedeu, sexta-feira (26), sua primeira entrevista desde que foi preso, dia 28 de abril do ano passado, na Polícia Federal em Curitiba. Condenado a oito anos e dez meses no caso do tríplex do Guarujá, Lula reiterou ser inocente e chamou o ministro da Justiça e ex-juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dellagnol de mentirosos. A entrevista com duração de duas horas foi dada aos jornalistas Florestan Fernandes Jr., do jornal espanhol El País, e Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.
“Sei muito bem qual lugar que a história me reserva. E sei também quem estará na lixeira\”, afirmou o petista durante o encontro que ocorreu após oito meses de negociação entre os dois veículos e sua defesa — e uma batalha jurídica que começou com a censura pelo STF da conversa, o recuo e liberação meses depois, e uma tentativa da PF de transformar a entrevista em coletiva de imprensa, sem o consentimento prévio do entrevistado.
No pequeno auditório da superintendência da PF, Lula pediu para fazer “um micropronunciamento” antes de começar a responder as perguntas dos entrevistadores. Suas mãos tremiam um pouco quando começa a ler as críticas contra seus julgadores. Atacou Moro, responsável pela sua condenação, a Operação Lava Jato, e o procurador Deltan Dallagnol. “Reafirmo minha inocência, comprovada em diversas ações”, disse, diante de delegados e de três oficiais armados, todos a serviço da PF, que fazem parte da estrutura do Ministério da Justiça, conduzido por Moro.
“Não tem problema que eu fique aqui para o resto da vida. Quem não dorme bem é o Moro. Quando vejo na televisão essa gente que me condenou, sabendo que eles são mentirosos, que forjaram uma história, aquela história do powerpoint do Dallagnol, nem o bisneto dele vai acreditar naquilo. Eu tenho muitos momentos de tristeza aqui. Mas o que me mantém vivo, e é isso que eles têm que saber, eu tenho um compromisso com este país, com este povo”.
E o ex-presidente começa a relaxar. É o Lula de sempre. Quem esperava vê-lo envelhecido ou derrotado, se frustra. Ele tem fúria. E obsessão para provar sua inocência. “Não tem problema que eu fique aqui para o resto da vida. Quem não dorme bem é o Moro, Dallagnol e o juiz do TRF-4 [que confirmou sua condenação em segunda instância]”.
Vídeo da entrevista: