Dizer que a presidente Dilma Rousseff está acuada não é novidade. A novidade é perceber que a chance que a petista tem de sair viva (leia-se, livre do impeachment) é pelo centro. A bancada da esquerda no Congresso Nacional, incluindo o PT, parece tão encurralada quanto a chefe do Executivo.
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Percebendo o quadro, o ex-presidente Lula, maior expoente da legenda, tem procurado se aliar aos moderados de centro – e para isso convenceu o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a não se associar à “pauta bomba” do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), coordenador político do Palácio do Planalto, recuou da postura de se apresentar como alternativa para a governabilidade em um eventual impedimento de Dilma. E voltou a falar em preservação do mandato presidencial como a melhor alternativa para o país, embora tenha tentado entregar o cargo de coordenação na sexta-feira (7), o que não foi aceito pela presidente.
Em meio ao turbilhão, Eduardo Cunha aprovou, a toque de caixa, as prestações de contas dos ex-presidentes Itamar Franco (1992/94), Fernando Henrique Cardoso (1995/2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003/2008). Com isso, o presidente da Câmara abriu a possibilidade de colocar em votação em plenário, nos próximos dias, as contas da gestão Dilma de 2009 a 2014.
Caso a matéria entre em votação no clima de guerra estabelecido por Eduardo Cunha contra o Palácio do Planalto, tudo leva a crer que as contas da presidente serão rejeitadas. Os deputados tendem a não concordar com as chamadas “pedaladas fiscais” feitas pelo governo no final do ano passado, com a antecipação de receitas não previstas no orçamento daquele exercício.
Na quarta-feira (6), uma fonte do Tribunal de Contas da União (TCU) avaliava que “o impeachment estava totalmente desenhado”. Segundo esse analista, o plenário do TCU deve opinar pela rejeição ou pedir que o governo encaminhe outra redação da prestação de contas. Depois disso, caberá à Câmara proceder ao julgamento das contas, tendo como base o parecer prévio do TCU. Se a Câmara recusar as contas, tem-se um fato concreto para iniciar o processo de impedimento da presidente.
Mas nem Dilma nem o PT estão dispostos a “entregar a rapadura” facilmente. Na quinta-feira (6), o partido enfrentou o anunciado “Panelaço” e levou ao ar um bem produzido programa de 10 minutos no horário eleitoral gratuito no rádio e na TV. Falou das realizações e avanços obtidos pelo país nos 12 anos de governos petistas e ainda encontrou tempo para ironizar os “coxinhas” batedores de panelas.
Houve reações negativas com o bater de panelas, explosão de fogos de artifício e buzinaço. Mas o partido deu o recado e mostrou que não está morto. Dilma e Lula pontuaram, conclamando a Nação a não abrir mão da estabilidade democrática conquistada a tão duras penas após vinte e um anos de ditadura militar.
Se a estratégia do PT e do governo vai dar certo, só os próximos acontecimentos dirão. Entretanto, está claro que, aos poucos, a presidente pode começar a enxergar uma luz no final do túnel que até então se apresentava como um verdadeiro buraco negro.
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Os índices de aprovação da gestão de Dilma Rousseff, segundo os institutos de pesquisa, ainda são sofríveis, abaixo dos 10%. A diferença, agora, é que ela e seu partido voltaram a mostrar a cara, dando sinais de que vão tentar sair dessa situação. No mínimo, aumentarão o grau de dificuldade da missão assumida por Eduardo Cunha e seus aliados.
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