Virou voz corrente em Brasília que o governo Rodrigo Rollemberg pode acabar a lua de mel com a população mais cedo do que se poderia prever. As cansativas desculpas de que o GDF está impedido de atender às mínimas expectativas da sociedade, por falta de dinheiro, não convencem.
Nenhum eleitor foi à urna pelo simples prazer de derrotar Agnelo Queiroz. A opção democrática da maioria dos brasilienses de excluir o petista até do segundo turno foi o sinal claro, emitido pelo povo, de que estava cansado da ineficiência, do empreguismo de cabos eleitorais, dos favorecimentos aos mesmos de sempre e das suspeitas de práticas de irregularidades com o dinheiro público.
Essa maioria confiou o DF nas mãos de Rollemberg pelos próximos quatro anos não porque ele tenha prometido aumentar impostos, atrasar salários e dar calote em fornecedores do governo. Muito pelo contrário. Seu discurso era recheado de propostas que tirariam Brasília da crise e dariam a todos a esperança de dias melhores, numa cidade próspera.
Porém, a ladainha começou a tomar corpo ainda na transição: “o GDF está quebrado”; “o rombo nos cofres públicos é de bilhões de reais” e “dias difíceis se avizinham” foram temas recorrentes na imprensa em novembro e dezembro. E desde 1º de janeiro o arrocho virou realidade.
Servidores públicos, trabalhadores terceirizados e até estagiários ficaram sem o pagamento de dezembro. Professores não receberam, até esta data, o abono de férias e parte do 13º.
Pelo calendário escolar, 650 mil alunos retornam às aulas no próximo dia 23. Mas encontrarão as escolas fechadas. Os mestres, naquela data, estarão em assembleia, na Praça do Buriti, cobrando seus direitos. E podem entrar em greve imediatamente.
Dia 23, aliás, é a data estabelecida pelo governador para que todos os órgãos do GDF apresentem o relatório de suas dívidas. Ou seja, em vez de olhar para o futuro prometido, o governo continua fixado no retrovisor, mais preocupado em revelar as mazelas herdadas de Agnelo do que em cumprir uma agenda positiva, que dê a cada cidadão a certeza de que elegê-lo foi a melhor escolha.
Nesse diapasão, aliados como os senadores Reguffe e Cristovam Buarque, ambos do PDT, ameaçam desembarcar da nau de Rollemberg. Parlamentares de outros partidos da base aliada podem segui-los. E a única forma de o timoneiro Rollemberg evitar esse desastre é mudando o norte de sua gestão.
É hora de esquecer o passado e acreditar no futuro. Chegou o momento de aproveitar o embalo do carnaval para sacudir a poeira e dar a volta por cima, e evitar que a lua de mel se esvaia com as cinzas de momo.
Orlando Pontes