O segundo maior acúmulo de lixo a céu aberto do mundo está com os dias contados. O dia 20 de janeiro é o prazo final dado pelo Governo de Brasília para o fechamento do lixão da Estrutural, o que só será possível devido à inauguração do aterro sanitário em Samambaia.
Com um modelo que diminui o impacto do descarte, o novo espaço já está recebendo um terço dos resíduos do DF desde janeiro de 2017. Por outro lado, caso a coleta seletiva continue atingindo apenas 60% da população local, o aterro de Samambaia tem capacidade para durar apenas mais treze anos.
Com 76 hectares, 32 deles para compactação do lixo, ele foi projetado para comportar 8,13 milhões de toneladas de rejeitos. O Serviço de Limpeza Urbana (SLU) calcula que, caso a coleta seletiva seja 100% implementada no DF e a área do aterro seja ampliada, além da implementação de ações na gestão dos resíduos, como compostagem, aperfeiçoamento da triagem, e educação ambiental para incentivar a separação correta, sua vida útil sobe para 26 anos. O governo negocia a compra de dois terrenos vizinhos, de 30 e 40 hectares, ao lado.
Deivid Mesquita, 22 anos, catador na Estrutural desde quando chegou em Brasília, aos 18 anos, acha que o projeto do governo é bom, mas distante da realidade dos catadores.
“Sinceramente, não acredito que trabalharemos em um galpão, com proteção e recebendo o valor que conseguimos aqui”, afirma. Em média, um catador na Estrutural chega a receber R$ 350 por semana separando materiais recicláveis.
O governo propôs aumentar de R$ 92 para até R$ 350 o valor pago por tonelada de material reciclável. Também se comprometeu a iniciar imediatamente o pagamento do benefício de R$ 360 por mês aos membros de cooperativa que transferirem seus serviços do lixão para os centros de triagem do novo aterro.
“É um salto civilizatório, com a inclusão dos catadores de forma adequada, digna”, comemorou o governador Rodrigo Rollemberg à época do acordo com as cooperativas.
Em Samambaia, num primeiro momento, serão seis galpões alugados, pois os definitivos ainda não estão prontos. Mas a ideia é que sejam sete. “Nem galpão o governo tem ainda”, alfineta Deivid. Mas o catador lembra que depois de muito tempo o poder público reconheceu o valor de quem separa lixo.
Uma montanha de lixo de 55 metros de altura
O maior lixão da América Latina nasceu irregularmente após a criação de Brasília, no início dos anos 1960. Seu nome formal é Aterro Controlado do Jockey, e deveria ter sido fechado há 20 anos, quando o Ministério Público pediu o fechamento do depósito.
Em 2011, a Justiça determinou o fim do lixão. Em 2014, terminou o prazo para encerramento de lixões e aterros irregulares no País, previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ainda assim, nada aconteceu.
Passados quase 60 anos, o espaço acumula 40 milhões de toneladas de detritos. O maciço — nome técnico para a parte central onde é disposto o lixo domiciliar — tem 55 metros de altura. No entorno do lixão, a Cidade Estrutural cresceu e conta hoje com cerca de 40 mil habitantes.
Neste cenário, o fechamento do lixão da Estrutural, mesmo com todas as nuances, é considerado uma conquista da gestão de Rollemberg e da diretora do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), Heliana Kátia Campos.
Trabalho continua
Mesmo após o fechamento do aterro, o Poder Público ainda terá trabalho para reparar os danos que o lixão causou ao meio ambiente. Principalmente por ser vizinho do Parque Nacional de Brasília – unidade de conservação que abriga o sistema Santa Maria/Torto, segundo maior reservatório de água do DF, responsável pelo abastecimento de 25% da população.
Antes da total desativação, o aterro da Estrutural receberá resíduos da construção civil, como entulhos de demolição, areia e pedras. Uma usina será contratada para operar no local.