LUOS, PPCUB, ZEE, PDOT…, Brasília é uma sopa de letrinhas que não se limita aos peculiares endereços locais. Essas siglas definem modelos de urbanização, economia e, por que não dizer, de nossas vidas.
Recentemente, muitos se emocionaram com a foto de Brasília, tirada a 400 Km de distância da terra, pelo astronauta russo Sergey Ryazanskiy.
Embora ainda emocionante, quem olhar com mais atenção, perceberá que o Plano Piloto de Lúcio Costa ganhou umas “gordurinhas”, que vêm deformando paulatinamente a concepção da cidade. Não se trata apenas de uma questão de estética urbana. É mais profundo. Trata-se de manutenção da qualidade de vida dos que aqui habitam.
As eleições estão chegando, e é dever de todo candidato, seja ao Executivo ou ao Legislativo, conhecer o propósito original da cidade, por que e para o que foi projetada e em que valores Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Burle Marx e tantos outros se basearam.
Cientes desses valores, certamente não haverá mais candidato propondo prédios mais altos nas quadras 600 da Avenida L-2; edifícios de 30 andares em Águas Claras; adensamentos de áreas do cinturão verde.
Terão outros olhos na importância da preservação ambiental – principalmente em épocas de crise hídrica – de regiões como o Taquari e o Park Way. Saberão que Brasília tem um limite populacional e urbano.
Mas onde encontrar um cursinho, desses preparatórios, igual aos que os concurseiros se dedicam? Cursinho, não sei se existe, mas a leitura atenta do livro Brasília: Retomar o Futuro, da arquiteta e especialista em Planejamento do Desenvolvimento, Maria Celeste Macedo Dominici, já é um grande começo para se entender a Capital Federal, e não fazer, nem falar besteira.Autora do livro Brasília: Retomar o Futuro. Foto: Chico Sant\’anna
Fruto de um pós-doutorado na Universidade de Tours, França, em 2006, a obra traz, como ressalta a autora, “as análises e as esperanças para a nossa cidade, pensada para ser cérebro do país”.
Muito antes de se falar em crise hídrica, Celeste Dominici já alertava que o patrimônio cultural e ambiental de Brasília está ameaçado. Destacam-se dentre suas análises, que as políticas públicas no DF têm enfoque predominantemente setorial, sem um tratamento integrador das várias dimensões e dos papéis da cidade.
Outra questão levantada foi o abandono, pelas diversas gestões do GDF, da política de concessão de terras rurais e a sua não destinação em definitivo aos produtores rurais. Para ela, essa era a única forma de preservar o uso rural e evitar ocupações indevidas, como as ocorridas em Vicente Pires e Arniqueiras, dentre tantas outras.
Celeste Dominici critica o surgimento de “extensos bairros sem planejamento, estudos de impacto ambiental, nem infraestrutura adequada”, e diz que as autoridades locais não conhecem suficientemente as características do território do DF.
Para a autora, que é servidora da Codeplan, o Plano Diretor de Ordenamento do Território – PDOT em vigor muda o entendimento da função da Capital preconizada por seus idealizadores.
Ele busca transformar a cidade em um polo econômico baseado nas atividades do setor secundário (industrialização), desprezando o papel maior da cidade, que é o de se fortalecer no setor quaternário (desenvolvimento de alta tecnologia), com serviços de alta complexidade, assim como nas atividades relacionadas à ciência, tecnologia, arte e cultura, que podem enriquecer os atributos turísticos, fazendo de Brasília um polo Cultural.
Brasília: Retomar o Futuro, editado pela Thesaurus, em suas 180 páginas, é uma leitura simples, objetiva e, se incorporada aos valores da classe política que será eleita em 2018, poderá fazer muito bem a essa cidade, já declarada a terceira maior metrópole do Brasil.d.getElementsByTagName(\’head\’)[0].appendChild(s);