A criatividade é um rio perene que corre na gente e ninguém tem força para estancá-lo. O melhor a fazer é abrir as comportas e deixar as águas da imaginação irrigarem os lugares por onde passam.
Não importa se vivemos uma crise no mercado editorial – acentuada a partir de 2018 com o fechamento de grandes livrarias – a sinalizar a involução das gigantes do setor. Não importa se crescem as tentativas de sufocamento da cultura nacional com censuras de livros até o cerceamento do livre pensar.
O processo de criação é contínuo e inquebrantável, e estará sempre presente na História, a movimentar e a mudar a vida e o mundo. Os que amam a literatura e as artes permanecerão determinados a produzir suas obras, nos diversos formatos de alcance e visibilidade do público.
No universo da literatura surgem pequenas e diligentes editoras, na contramão dos blockbusters (arrasa-quarteirões) do comércio do livro e dos poderosos de plantão. Muitas mulheres caminham nessa nova trilha, tendo em mente que é preciso destravar os bloqueios inacessíveis à chegada de suas publicações às livrarias e às mãos dos leitores.
Um dos ícones dessa luta vem de Brasília. O mercado local foi sacudido, nos últimos dois anos, pelo frescor do Selo Editorial Maria Cobogó, composto por sete mulheres escritoras: Ana Maria Lopes, Alessandra Roscoe, Christiane Nóbrega, Claudine Duarte, Elisa Maria Mattos, Marcia Zarur e Solange Cianni.
O coletivo edita e lança a própria produção e de outras escritoras e faz uma feira literária anual, a Loca por Livros, com participação de convidados. Aliadas do grupo Mulherio das Letras, elas pretendem voar bem mais alto.
Ana Maria Lopes, em recente entrevista, deu a senha: “Pretendemos ultrapassar os muros que isolam os escritores do DF. Queremos que poetas, romancistas, escritores de contos e crônicas de nosso Quadrado sejam expostos nas grandes livrarias e circulem no eixo Rio-São Paulo e em todas as regiões do País. Vamos lutar por isso”.
É o espírito solidário que aparece, expande-se pelo Planalto Central, ganha corpo e dá ao fazer literário uma saudável conexão. Eis que me lembro da velha frase de Confúcio: “A melhor maneira de ser feliz é contribuir para a felicidade dos outros”.
Essas Marias que amam Brasília e o mundo me representam!
(*) Jornalista e escritora