As planilhas apreendidas pela Polícia Federal na casa de um ex-executivo da Odebrecht listam repasses a pelo menos 316 políticos de 24 partidos, revelando ser ainda mais longa do que a estimativa inicial onde havia a informação de que 200 políticos haviam sido citados.
A apuração do jornal Folha de S. Paulo mostra que a planilha, apesar de ter mais nomes do que o calculado inicialmente, continua com seu caráter ecumênico e envolvendo políticos pró e contra o impeachment. A maioria deles, porém, faz parte da tropa de choque contra a presidente Dilma Rousseff. Na relação surgem nomes de ministros do governo, senadores e deputados e credenciam todos eles a serem investigados pela Operação Lava Jato.
Os repasses foram feitos nas campanhas municipais de 2012 e para a eleição de 2014. Porém, não se pode afirmar com certeza de que se tratam os números das planilhas. Podem ser doação legal, caixa dois, ou propina.
O material foi apreendido em fevereiro com o então presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa Silva Júnior, no Rio de Janeiro, durante a fase Acarajé da Lava Jato. A lista reúne ministros, caciques da oposição, governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores. Destes, oito são integrantes da comissão especial que analisa o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Também estão envolvidos o mais expoente nome da oposição, Aécio Neves (MG), que é mencionado como beneficiário em uma planilha de pagamentos da eleição de 2010. Segundo o documento, o tucano teria recebido R$ 120 mil da empreiteira. O senador José Serra (PSDB-SP) também aparece.
A lista, divulgada em primeira mão pelo Blog do Fernando Rodrigues, no UOL, mostra que muitos dos supostos beneficiários ganharam apelidos. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é chamado de “caranguejo” e aparece ao lado de um suposto pagamento de “500″, sem maior especificação. Em uma das planilhas, Cunha aparece como beneficiário de doações feitas a outros dois partidos: PR e PSC. Já o chefe de gabinete de Dilma, Jaques Wagner, era chamado de “passivo” e teria recebido R$ 3 milhões relativo à campanha de 2010, quando concorria à reeleição no governo da Bahia.
Ainda de acordo com a Folha, a Odebrecht projetou pagamentos para grupos de “parceiros históricos”, como o ex-presidente José Sarney, o atual presidente do Senado, Renan Calheiros, e o senador Romero Jucá, todos do PMDB.
Renan Cunha e Aécio são investigados ou já foram citados por outros delatores da Lava Jato como beneficiários de propina na Petrobras, da qual a Odebrecht é a maior financiadora.
A lista traz também nomes da oposição como Paulinho da Força (SDD-SP), os tucanos Jutahy Magalhães (BA) e Paulo Abi-Ackel (MG), os democratas Medonça Filho (PE) e Rodrigo Maia (RJ) e o peemedebista Osmar Terra (RS). Entre os governistas, são citados ainda os deputados Paulo Teixeira (PT-SP) e Paulo Magalhães (PSD-BA).
Governadores e prefeitos
Entre os supostos beneficiários da Odebrecht aparecem ainda o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que morreu em agosto de 2014 e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), que aparece na lista como beneficiário de uma doação de R$ 400 mil em 2010.
Entre os prefeitos citados estão o do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), apelidado de “nervosinho”, o de Salvador, ACM Neto (DEM) e o de São Paulo, Fernando Haddad (PT).
A maior parte dos supostos pagamentos citados, segundo levantamento da Folha de S. Paulo, refere-se à campanha municipal de 2012, com anotações sobre candidatos indicados por líderes políticos de expressão. As listas também mostram uma tentativa de diluir os recursos na campanha eleitoral entre diversas empresas do grupo Odebrecht. As empresas eram chamadas de “sponsor” (patrocinador). Também são citadas contribuições para candidatos da “região do Comperj”, complexo petroquímico do Rio de Janeiro que é uma das maiores obras da Petrobras.
Sigilo
O juiz Sergio Moro, mesmo após a divulgação do conteúdo das planilhas da Odebrecht, decretou sigilo dos autos do processo da Lava Jato que contêm os documentos. Segundo o magistrado, é necessário o envio do material para o Supremo Tribunal Federal (STF) “para continuidade da apuração em relação às autoridades com foro privilegiado”. Os papeis eram públicos até a manhã desta quarta-feira (23).